terça-feira, 14 de setembro de 2010

Pedorido visto do rio Douro! 4ª Parte



Custou a despegar o olhar de Melres e da sua ribeira, que sempre havíamos guardado bem lá no fundo e sentimos como que um misto de saudade e alegria, porque nos pareceu, que o actual rio Douro não terá mexido ou alterado o que era fisicamente aquela linda povoação nos anos cinquenta! Por vezes somos traídos pela imaginação, e, no caso, vivíamos com a ideia de que as águas do "novo" Douro teriam "invadido" uma parte de Melres e da sua viçosa ribeira... Foi como que o transportar de um "peso" que carregamos durante muito tempo e, no final, sentirmos o alívio dessa libertação, mas não sermos capazes de encontrar as palavras certas para tamanho alívio...
Quem não se recorda dos mineiros que diariamente transpunham o rio vindos daquela margem, e, que, volvidos trinta minutos eram "engolidos" para as entranhas da terra durante horas seguidas?!... E ao recordar Melres, é mais que justo relembrar aqui, aquele jovem louro, de aspecto nórdico, que dava pelo nome de António Vieira da Rocha, um exímio lançador do martelo no início dos anos cinquenta e que no velhinho campo entre Pedorido e a Póvoa, tantas vezes vimos lançar o engenho a distâncias que para a época eram um espanto!... Bela prática desportiva e a "feijões", que é como quem diz, sem ganhar tostões nem milhões, e, só faltará acrescentar, que, a sua primeira profissão foi como mineiro, e, só mais tarde seria transferido para as Obras, uma espécie de construção civil da Carbonífera! Ou seja o mérito viria depois das provas dadas!...
A Lomba sempre viveu um pouco escondida em resultado daquele ziguezaguear do Douro, mas que soube aproveitar mais tarde aquele grande espaço junto do rio e construir ali uma praia fluvial, onde é notório o bom aspecto de ponta a ponta e que aqui registamos! Dos tempos de miúdo, vem-nos à lembrança os sermões do padre Regadas, cuja fama de orador ecoou pelas terras ao redor e pelos vales circundantes e de que nos recordamos ainda, daquele longo sermão na esplendorosa igreja de Pedorido, onde aquele abade repetiu, vezes sem conta, a frase que seria o título que escolhera e que estivera na origem de tão polémico sermão:-« ... É PERIGOSO DIZER A VERDADE!...» Hoje, temos fortes dúvidas que em meados dos anos cinquenta estivesse a ser entendido por algum dos presentes, dado que se tratava de sermões demasiado filosóficos, teóricos, se quisermos, sem chamar os bois pelos nomes, quando deveria saber-se que se tratava de assistências quase analfabetas e habituadas a trabalhos duros e a vida difíceis...
Achamos curioso, passado todo este tempo, estas recordações "saltarem cá para fora", num sinal para nós, claríssimo, de que não vamos agora, nem amanhã, esconder o realismo de uma época, que também foi a nossa e da qual memorizamos o essencial! E o essencial foi perceber, que, com o passar dos tempos, as mentalidades são capazes de evoluir, e, se, hoje, nos foi possível navegar Douro acima, num barco com alguma dimensão e conforto, não vamos querer esquecer aquele outro tempo em que fizemos idêntico caminho, rio abaixo, rio acima, a bordo de uma pequena lancha, sem comodidade alguma, mas onde reinava a alegria de uma juventude, que, viria, uns anos mais tarde, a dar o seu melhor para as mudanças que o país aplaudiu e que só terão pecado por tardias!...

-Se tens amor à tua região, divulga-a!

Etiquetas: Religiões, rios, mentalidades, filosofia, atletismo, Melres, Lomba, minas, barcos, Douro, praia fluvial, mestre Arnaldo, padres.

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