domingo, 24 de janeiro de 2010

QUE TIPOS DE EDUCAÇÃO?!... UM EXEMPLO!...

Contam-se muitas histórias, algumas delas muito antigas e que acabam por criar nas nossas cabecinhas, naturais dúvidas sobre a sua autenticidade; daí, também não virá grande mal ao mundo, sobretudo se pecarem por falha no rigor do tempo, visto que mesmo os métodos mais avançados de que hoje os cientistas se servem, também os levará a cometer erros, que, embora mínimos, não deixam de o ser...
Entretanto, surgem as outras histórias mais recentes, que dizem respeito aos humanos e que nos contam como se terá desenvolvido a História dos Povos, já com datas mais precisas, sobretudo nos últimos milhares de anos e até aos nossos dias.
Tudo isto, para concluir, que as coisas nunca foram estáticas e as mudanças não pararam de acontecer, até, porque, os intervenientes também foram sendo substituidos e as regras alteradas, de acordo com novas filosofias, ou ainda, porque as novas realidades a isso obrigaram os de ideias fixas e a sociedade em geral, que, não raras vezes, também viu a sua oportunidade surgir em forma de flash, onde passou a desempenhar, um papel de árbitro, influenciando as decisões para qualquer dos lados...

Vamos a caminho de atingir os setenta anos e pela parte que me toca, acho que será boa altura não só para reflectir, mas, sobretudo, para poder transmitir com algum rigor, até para se poder comparar com os dias de hoje, como era exercida a paternidade nos anos Cinquenta e Sessenta; poderia contar várias histórias de rajada, mas parece-me que não seria um bom método para começar, porque daria aso a que se baralhasse e perdesse o "fio à meada".
Começo por uma pequena história que vivi no final dos anos Cinquenta, que diz bem da relação entre pais e filhos, teria na época os meus dezassete anos:
«Naquele domingo um amigo meu de Pedorido, uma semana depois da Páscoa, convida-me para seguir com ele até um pequeno lugar da freguesia de S. Miguel do Mato, onde segundo ele, teria lugar a festa em honra de S. Lázaro, e, que, presumo, já conheceria de anos anteriores, mas que para mim era uma estreia absoluta; apesar de nunca ter feito uma incursão no terreno para o interior e para uma localidade que distava do Douro uns bons dez quilómetros, nem isso me levou a rejeitar tal convite e a seguir ao almoço arrancamos a pé com a melhor das disposições rumo a S. Lázaro e à festa, porque acreditava que na companhia de um amigo com mais seis anos e com tamanha experiência, tudo iria começar e acabar bem.
O caminho, que mais foi uma caminhada, até se fez bem, pondo de parte a monotonia que desde o início até ao lugar da festa tivemos que suportar, já que nem sequer um ser humano haveríamos de encontrar, enquanto íamos deixando para trás terrenos acidentados e inóspitos com serranias carregadas de arvoredo e do mais variado tipo de vegetação rasteira, sabendo nós que o Arda não correria por vales muito distantes, sem, contudo, nunca lhe pôr o olho em cima, mas, claro, sabíamos que pisávamos terrenos de Arouca...
Chegamos ainda frescos ao pequeno lugar todo engalanado, tendo a capela um lugar de destaque, devido ao dia festivo, e, notava-se, uma pequena onda de forasteiros que se divertiam pelos arruamentos mais próximos da capela, enquanto que muitos outros procuravam cumprir primeiro que tudo as promessas feitas ao santo e que ali se teriam deslocado por via disso!
Já para o final do dia, eu e o meu bom amigo, havíamos de tornar as coisas bem mais difíceis, quando resolvemos meter conversa com duas moças, para depois decidir acompanhá-las a pé até à sua aldeia, que distava uns seis quilómetros, ou mais, do local da festa; depois de as termos deixado na sua terra natal, conforme fora nosso propósito, encetamos o caminho de regresso, com a noite a surgir como mais um obstáculo e que se vinha juntar ao caminho longo e difícil a percorrer, mas que tinha de ser feito; recordo, que voltamos a passar de novo por S. Lázaro, às primeiras horas da noite, onde reinava agora um sossego e uma calmaria próprios de uma aldeia fantasma, uma vez que já não se via viv'alma fora das habitações e a noite escura tornava agora aquele pequeno lugar num sítio adormecido, sem vida, se compararmos com o bulício de horas antes, e, agora, já começávamos a sentir algum cansaço e um certo desconforto moral, porque sabíamos que ainda tínhamos pela frente a derradeira caminhada final de mais dez quilómetros, para, finalmente, reencontrar a nossa querida aldeia, ali bem sobranceira ao rio Douro e defronte a Rio Mau na outra margem, que, até à noite, teima em manter a beleza e uma singular altivez, sem paralelo nas aldeias mais próximas e que imaginamos ter herdado das suas gentes primitivas e que se têm vindo a solidificar ao longo dos tempos!...
Para felicidade nossa e quando atingíamos as fraldas da serra do "Cámouco", prestes a entrar em terrenos paivenses, o luar resolveu em boa hora aparecer e foi uma abendiçoada companhia de que estávamos a necessitar, e, que, logo de seguida, até nos presenteou com uma represa de água límpida e a transbordar, que aproveitamos para saborear, porque além de fresquinha, vinha mesmo a calhar!... Esta bebida, veio dar-nos o impulso de que precisávamos para o resto da viagem, mas assim que atingimos o alto do Picão, fiz saber ao meu bom amigo, que devido ao adiantado da hora, seriam umas onze horas da noite, iria ter uma outra tarefa ainda mais difícil pela frente, porque teria que enfrentar os meus pais e a seguir contar-lhes toda a verdade, sabendo de antemão, que o meu pai era uma pessoa bastante rigorosa e que não iria pactuar com chegada tão tardia, mesmo que se tratasse da primeira vez, como era o caso!...
Ao chegar muito próximo da casa paterna, já sem a companhia do meu amigo, pude verificar que as luzes do exterior estavam todas acesas, os meus pais no terraço à minha espera e à espera das minhas justificações; contei-lhes toda a verdade e nem sequer omiti a minha companhia, que os meus pais bem conheciam. No final das minhas explicações o meu pai repreendeu-me com as seguintes palavras:

- POR SER A PRIMEIRA VEZ QUE TAL SUCEDE, O ASSUNTO POR HOJE FICA POR AQUI!...

E mais não disse, embora viesse a saber pelo meu amigo uns dias depois, que o meu pai procurara confirmar junto dele a veracidade da minha justificação!

NOTA: Esta história acaba também por ser uma simples homenagem póstuma àquele meu amigo de caminhada e que em vida se chamou Manuel Tavares, muito popular em toda a aldeia e que pouco tempo depois foi emigrante em FRANÇA!

RECORDAR É VIVER DUAS VEZES!

UM ABRAÇO PARA LÁZARO, PEDORIDO E RIO MAU!