domingo, 20 de fevereiro de 2011

AINDA SOBRE OS DESASTRES DE BHOPAL E CHERNOBIL! (2ª Parte)

Temos vindo a alertar para os desastres ambientais em Bhopal e em Chernobil na década de oitenta provocados pela irresponsabilidade humanas!... Na altura foi muito comentado, lembro-me, mas com o passar dos anos foi esbatendo e já nem se fala, nem se comenta... Faz parte da nossa cultura, é a nossa maneira de estar e depois fica lá longe, não nos tocou pela porta e não damos ao caso a importância que deverá ter! As consequências, essas ainda irão sobrar por muitos e muitos anos até que o equilíbrio volte ao planeta nas áreas afectadas, mas os humanos têm de ser avisados que muito de positivo há ainda a fazer e que se fez ainda muito pouco, sob pena de que novos e graves desastres dali possam advir, porque em Chernobil, por exemplo, colocaram à pressa uma campânula que isolou por algum tempo todo aquele descontrole radioactivo, impedindo que continuasse a soltar-se para o exterior... Só que os materiais utilizados ao fim de vinte, trinta anos irão ceder ao desgaste e as fugas darão lugar à libertação de novas e perigosíssimas quantidades de radioactividade que irão não só afectar toda a região envolvente, mas também seguir para outros pontos do planeta e que poderão até nem ser os mesmos de 1986!... É preciso dar a saber que vai ser preciso um milhar de anos ou muito próximo disso, para que os níveis radioactivos baixem para valores compatíveis e há que investir naquele local a melhor tecnologia e os melhores materiais porque as improvisações e o "deixa andar" dão sempre em surpresas desagradáveis.
Em Bhopal o cenário é diferente mas não é melhor... Discute-se mais e até já se fizeram manifestações, porque é bem mais fácil acusar nos tribunais e na via pública a multinacional americana Union Carbide e o seu dirigente máximo, mas, o que já não é aceitável, é que toda a área da extinta fábrica continue contaminada há mais de vinte anos! Várias organizações e moradores da região exigem a limpeza do local e afirmam que dentro da fábrica há uma grande quantidade de produtos químicos acumulados e sem protecção, que atingem o solo e contaminam as águas.
Recentemente a BBC publicou uma pesquisa que indicava que a água em Bhopal tem um nível de contaminação 500 vezes mais alto que o limite estabelecido pela Organização Mundial de Saúde (OMS). Não é necessária uma grande inteligência para perceber que milhares de indianos pobres na região de Bhopal estarão a ingerir esta água imprópria para consumo e que conterá um variado leque de substâncias perigosas não só para a saúde pública, mas que afectará toda a biodiversidade naquela região do centro da India.
Já passaram mais de vinte e cinco anos sobre estas duas tragédias e pelo que sabemos pouco de seguro foi levado adiante. Uma vida de trabalho e alguma experiência na indústria química, ensinou-me, que nestas questões não pode haver remendos nem falsas soluções, porque pode sair muito caro e o pormenor de que é muito longe e não nos toca, além de ser uma atitude egoísta é também irresponsável e perigosa! O ditado popular "do longe se faz perto...", tem aqui total cabimento, porque as variações das correntes atmosféricas levam a contaminação das nuvens radioactivas para zonas bem afastadas do local de origem, que no caso presente foi Chernobil.
Deu para entender?! É que está tudo em aberto!... (CONTINUA)


sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Relembrar os Desastres de Bhopal e Chernobil! (1ª Parte)


Quando pensamos nas questões ambientais, dois dos maiores acidentes ou desastres acodem de imediato à nossa memória: Bhopal na India e Chernobil na Ucrânia.
Curiosamente estávamos em meados da década de oitenta e ligado a uma empresa química norte americana, e, talvez por isso, seria a partir dali que me comecei a interessar mais pelo que se passava por cá e também lá por fora...
Pareceu-me, que a partir de Bhopal em 1984, começou a haver outras preocupações e cuidados na indústria química e não seria caso para menos, porque embora não haja dados estatísticos rigorosos, crê-se, que, devido à libertação de cerca de 40 toneladas de gás tóxico, aproximadamente 2 mil e 500 pessoas morreram nos instantes seguintes ao acidente e mais 8 mil morreram nos três primeiros dias após a explosão. Actualmente, pelo menos morre uma pessoa por dia devido a doenças relacionadas com a exposição às substâncias tóxicas e cerca de 150 mil possuem doenças crónicas e necessitam de assistência médica.
A fábrica química da Union Carbide em Bhopal permanece abandonada desde a explosão tóxica, mas os resíduos perigosos e materiais contaminados ainda estão espalhados pela área, contaminando o solo e as águas subterrâneas, dentro e no perímetro da sua antiga fábrica.
Tinham passado mais de dois anos e desta vez tinha lugar em Chernobil na Ucrânia o pior desastre nuclear de que há memória! O acidente produziu uma nuvem radioactiva que atingiu toda a URSS, Europa Oriental, Reino Unido e Escandinávia. Grandes áreas foram contaminadas principalmente na Ucrânia e na Bielorrússia, tendo levado à evacuação de cerca de 200 mil pessoas. A radioactividade espalhou-se por aqueles países, devido às condições atmosféricas, sempre variáveis, acabando por afectar a vida de regiões a milhares de quilómetros de distância.
Também aqui é extremamente difícil informar a quantidade exacta de pessoas que morreram devido ao acidente, mas em 2005 a ONU divulgou um relatório que atribuiu 56 mortes e uma estimativa de cerca de 4 mil pessoas, que, possivelmente, morreriam no futuro por doenças relacionadas com os malefícios das elevadas doses de radioactividade.
Por último, aparecem destacados nos inquéritos alguns dados que teriam estado na origem do acidente e que nos fazem arrepiar, como a pouca instrução dada aos operadores, defeitos nos reactores, a falta de comunicação correcta entre os escritórios de segurança e os operadores, além de terem desligado os aparelhos de segurança dos reactores, atitude expressamente proibida.
Finalmente, há cerca de dez anos, após várias negociações internacionais com o governo da Ucrânia, conseguiu-se desactivar esta ultrapassada central nuclear cujos malefícios estão longe de ser avaliados.
Se foi péssimo e desagradável o que aqui acabamos por descrever, que possa contribuir para que repetições destas não voltem a suceder, porque a vida na Terra dispensa bem cenas e atitudes irresponsáveis de gente, que, terá de perceber, que é possível ter lucros sem ter que pôr em causa os equilíbrios ambientais, que, naturalmente, já existiam e que devem continuar!

(CONTINUA)

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

QUANDO OS AVISOS "CAIEM EM SACO ROTO"...


Se guardo recordações ou memórias, fico a pensar que aos outros acontecerá coisa idêntica, e, acontecerá, com certeza, que as boas e más recordações ficaram a morar no mesmo patamar de um cérebro que se limita a fazer unicamente o que lhe compete, sendo certo que nos dá muito mais prazer relembrar aquilo em que nos saímos melhor, preferindo até, que as piores recordações nem existissem, ou, na pior das hipóteses, fossem ocupar uma zona mais cinzenta do nosso cérebro, uma espécie de penumbra, já mal iluminada, onde o esquecimento viesse a acontecer num prazo que fosse curto como convinha.
Todavia, já achamos muito reconfortante, visionar em pensamento os momentos que identificamos como os mais bem conseguidos, porque achamos que nos deram as maiores alegrias, e, esses factos saborosos, servem de estímulo para que continuemos a sonhar com futuros momentos, se possível, iguais, numa espécie de repetição, que a acontecer já não teria os mesmos cenários de outrora...
Entretanto, uns mais que outros, terão conseguido lidar com as boas lições, que a vida foi ou vai proporcionando, onde as escolhas vão ter de ser feitas depois de o raciocínio e a serenidade actuarem como conselheiros.
Ao longo das nossas vidas lidamos com gente sábia, que nos ajudou, sem saber, naturalmente, que o estariam a fazer e a quem ficamos agradecido. Assistimos também a bons exemplos dirigidos directamente a terceiros de que fomos testemunha, mas, que, infelizmente, acabariam por "cair em saco roto"... De entre esses queria destacar aquele que acabou por me chocar e que não resisto a contar:
-« Há seguramente vinte anos, encontrei-me por casualidade a almoçar na mesma mesa de um restaurante com outros dois profissionais que laboravam na mesma companhia e foi por essa razão que nos viríamos a encontrar naquele local e àquela hora... Falou-se de várias coisas, como sempre acontece em situações semelhantes, mas em determinado momento o homem de mais idade, aproveita a ocasião para relembrar ao mais jovem que tivesse mais cuidado, porque vinha a observar - há já algum tempo - que a forma como se comportava no comando da sua pesada moto, era de molde a prever que iria acabar por se matar!... A seguir, deu-se ao cuidado de explicar e contou até que tomara parte em corridas de motas de grande cilindrada em várias cidades de Angola durante a sua juventude, e, que, a experiência aí adquirida, levavam-no a prever a tal fatalidade, se, entretanto, não viesse a mudar de comportamento... O jovem lá se justificou e deu mostras de não aceitar o palpite ditado pela experiência e foi buscar até alguns argumentos, que fariam dele um condutor à altura das velocidades e dos zig-zagues com que brindava quem observava tais habilidades! Passaram- se umas duas semanas, o tempo suficiente para que a notícia chegasse até nós, dando conta de que o jovem havia tido morte imediata num despiste a cerca de cem metros da casa onde morava na Granja, ali próximo de Espinho...»
Avisos deste e de outro teor são o pão nosso de cada dia, mas alguma experiência, vai-nos alertando, de que há fases na vida dos humanos em que os conselhos raramente são aceites, por teimosia, dizem alguns, enquanto outros culpam a imaturidade e a irresponsabilidade!... E será só isso?!...