sábado, 25 de setembro de 2010

Pedorido visto do rio Douro! ( 9ª e última parte )

Assim que entramos na zona demarcada, pareceu-nos que o encontro com a Régua foi bem mais rápido do que estaríamos à espera, e, aí, pudemos ver uma cidade do interior com uma vida própria assinalável e até um pouco agitada, porque a rota do vinho tem a virtude de "atrair" o turismo, agora através das três frentes conhecidas e que são o comboio, os barcos de recreio e as auto-estradas... Este turismo de que falamos, chama muito mais pessoas, estrangeiros e portugueses, desejosos de conhecer a região demarcada do Douro e uns e outros são unânimes em tecer elogios às belas paisagens que desfrutaram, e, por via disso, fizeram questão de guardar não só nas suas memórias, mas também em máquinas mais ou menos sofisticadas a quem não deram tréguas durante as horas que durou a viagem, para que mais tarde, já em ambiente familiar e de amigos, poderem rever as imagens com as quais se encantaram! De resto, não será por acaso que se diz em bom português:-« Recordar é viver duas vezes!...»
Ao longo da viagem de cerca de seis horas, deu para notar que os nossos hábitos gastronómicos diferem um pouco dos estrangeiros, que, apreciam melhor os nossos vinhos, porque para lá da refeição, fizeram questão de continuar a saborear os bons vinhos desta região demarcada, demonstrando um prazer e uma alegria para lá do comum dos portugueses!
Achamos oportuno focar aqui um outro aspecto que poderá não ter sido salvaguardado, tendo em conta as diferentes realidades desde a Foz do Douro até se atingir a região demarcada. Estamos a referir-nos às contra-partidas, que quanto a nós se justificariam, porque, quer se queira ou não admitir, a bacia do Douro não é homogénea... E, por não ser homogénea, houve formas de vida que foram sacrificadas devido à subida do nível das águas em todo este Baixo Douro e que nem sequer os dinheiros irão resolver!... Relembremos aqui a melhor agricultura de toda a zona ribeirinha, passando por todo o tipo de pesca sazonal e que dava muita vida pelas freguesias e lugares ao redor desses extensos areais, já para não falarmos no corte radical que foi feito às ligações ancestrais, já com centenas de anos e que diariamente eram feitas pelo rio, nos casos de Pedorido e Rio Mau, Sebolido/Cancelos e Midões e Melres e Lomba... Só para citar os exemplos que melhor conhecemos! Tudo isso passou a fazer parte da História e das memórias ainda vivas das gentes que ali despertaram para a vida e que não esquecem o passado colectivo!
É difícil perceber e mais difícil ainda é aceitar, que não tivessem previsto neste grandioso projecto o respeito pelo rico historial destas gentes ribeirinhas, num "chega p'ra lá", intencional ou não, mas que foi muito feio e que merece ser aqui denunciado!!!

-Um abraço fraterno para toda a região duriense!

Etiquetas: turismo, comboio, interioridade, memórias, povos ancestrais, pesca sazonal, gentes ribeirinhas, rios e afluentes.

terça-feira, 21 de setembro de 2010

Pedorido visto do rio Douro! 8ª Parte



A seguir a Entre-os-Rios ficamos com curiosidade por chegar à foz do rio Paiva, por ser um afluente por quem temos uma simpatia especial e que vem de há muitos anos! A simpatia surgiu quando deram a conhecer que era dos rios menos poluídos da Europa e por roçar pelos limites do nosso distrito... E foi reforçada, depois de sabermos dos desportos radicais que ali se praticam, porque é uma das várias formas de dar a conhecer belas e naturais paisagens e nos sítios mais escondidos do interior deste bonito país!
A Ilha dos Amores surge a anunciar a proximidade do rio da nossa simpatia, mas também foi giro rever o Castelo e o Escamarão, que nos trouxeram lembranças de gentes mais antigas e que sabe bem recordar, porque ajudaram de alguma forma à nossa identidade!
Finalmente a barragem de Carrapatelo e a 2ª eclusa, que após uma operação demorada, que decorreu com toda a segurança, após vencer um desnível com quase o dobro do de Crestuma!... Aqui, mais uma vez nos vimos confrontados com a história e com uma das obras do grande Camilo C. Branco, quando descreve com a arte que se lhe reconhece a passagem por estas bandas do Douro da quadrilha do Zé do Telhado, o tal que tirava aos ricos para dar aos pobres e tudo isto há pouco mais de cento e cinquenta anos!... Conta-se, que terá sido o primeiro escritor em Portugal a viver à custa dos seus trabalhos literários, isto em pleno século dezanove!
Nesta nova albufeira até à Régua, deu para perceber, que flutuávamos em águas mais profundas, porque deixamos de ver as marcações a vermelho, que desde a saída do cais de Gaia foram uma constante rio acima. Começamos a notar que entrávamos numa vasta zona de floresta acentuada e em ambas as margens, aqui e além, com uma ou outra casa isolada, de acessos bem difíceis, razão porque nesses sítios, umas pequenas lanchas encostadas à margem, davam a perceber, que será através do rio, que fazem os seus contactos com o mundo exterior... Por vezes, não muitas, éramos surpreendidos com a presença das garças, uma ave que não esperávamos encontrar por ali!... Fazem parte da chamada bio-diversidade, bem real e nada fácil de ser entendida pelos humanos...
Esta sucessiva monotonia, só iria mudar bem lá mais para cima, especialmente a partir do encontro do comboio com o rio na margem direita, onde a presença do casario começa a ser mais constante e a presença humana começa a ganhar mais consistência e que será como que o prenúncio da proximidade de um outro Douro, o chamado Douro vinhateiro, onde as vinhas já antes da Régua, surgem em ambas as margens devidamente ordenadas pela mão dos humanos, na forma de socalcos até ao cume das encostas, num aproveitamento e perfeição, que à distância lhes dá uma beleza única e que todo o mundo admira!...

-Este post é uma cópia do que publicamos no blogue PEdorido.com

domingo, 19 de setembro de 2010

Pedorido visto do rio Douro! 7ª Parte



Nunca escondemos que trazemos bem gravado o rio mais antigo e por razões muito especiais e diversas, que nem serão difíceis de imaginar!... Daí, navegarmos, quase convencido, que poderemos ser o único a bordo deste barco de recreio, que conseguirá ver ou imaginar, outros rios e outros cenários que já desfrutamos neste mesmo Douro, donde não é possível separar os belos e naturais areais, que eram diversos e que hoje estão submersos, para não dizer escondidos, e, que tantas vezes pisáramos...
Este nosso apego às memórias, que não nos largam, fez com que "desligássemos" por muitos minutos e nem prestássemos a devida atenção aos pequenos lugares ribeirinhos de Cancelos, numa das margens e de Midões e Gondarém na outra margem, sendo que estamos ligados por laços afectivos a este último povoado! Sabemos que a nossa mãe é dali natural e há indícios de que os antepassados do lado paterno sejam oriundos de Rio de Moinhos, o que equivale a dizer que somos um duriense dos sete costados...
Ainda durava o almoço quando atingimos Entre-os-Rios, povoação antiga e ribeirinha, não só do rio Douro, mas ainda do Tâmega que ali resolveu entregar-se duma forma pacífica ao grande rio e de forma idêntica ao Arda da outra margem em Pedorido!
Pudemos constatar que no presente, Entre-os-Rios dispõe de três pontes para desfrutar, mas terá ficado muito marcada pelo trágico acontecimento de 2001! Constatamos que alguns dos portugueses que viajavam neste barco comentavam o sucedido, sinal de que o país não se libertará tão cedo da tragédia que se abateu sobre as gentes desta zona do Douro... Foi péssimo, porque se perderam tantas vidas humanas e de seguida foi terrível ter de assistir ao desfile hipócrita de gentinha que aspira ao protagonismo a qualquer preço e que o tempo veio pôr a nu, se dúvidas houvesse!... ( Continua )

Nota: Esta é uma cópia do post publicado no blogue PEdorido.com

Etiquetas: Tâmega, Rio de Moinhos, Entre-os-Rios, Arda, pontes...

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Pedorido visto do rio Douro! 6ª Parte



Isto é muita emoção para tão poucas horas! Ainda saboreávamos o paladar deste "novo" Pedorido e de seguida caía-nos bem à nossa frente a bonita e solarenga aldeia de Rio Mau, que já compararam com terras bem distantes... Quanto a nós, Rio Mau só é comparável consigo própria, porque é única e tem o seu próprio padrão! Seria como comparar este Douro navegável com o rio Tejo, que não são comparáveis, de forma alguma! O Tejo orgulha-se do grande estuário e de ser como que o anfiteatro natural da grande capital, mas o Douro "arrasa" com a sua identidade própria, que todo o mundo reconhece e já considerou património mundial! Penso para mim, que cairmos na tentação das comparações, estaríamos, talvez, a ir atrás dum qualquer sentimento de inferioridade, ou de coisa semelhante, que não faria sentido algum...
Acentuemos, isso sim, a componente humana do povo desta terra, que no seu todo, sempre se distinguiu pelo apego e amor à sua terra, e, que, quanto a nós, estará na base do que é muito justamente comentado como um sucesso colectivo!
De referir que em 1950, a pequena aldeia de Rio Mau era um pequeno lugar, onde só lhe conhecíamos uma pequena e artesanal oficina de colmeias, uma agricultura pobre e de subsistência e com gente humilde e bem disposta, que soube encontrar nas minas de Germunde, nos rabões da Carbonífera, na pesca no Douro e até na emigração, a forma honesta para a sobrevivência e para "mais altos voos"! A coesão deste povo decidido, viria a dar os frutos que estão à vista, e, sem desprimor, por quem quer que seja, entendemos da maior justiça, relembrar aqui, a figura e os exemplos de trabalho do saudoso padre Manuel que ainda conhecemos no final dos anos quarenta, éramos ainda uma criança!
Há um pormenor que ainda hoje transportamos connosco rio acima e para o qual ainda não conseguimos encontrar resposta convincente... Em boa verdade, desconhecemos em absoluto, se foi a coesão deste povo que "ganhou" o padre Manuel, ou, se, pelo contrário, teria sido a forma de estar no mundo daquele abade que "conquistou" toda aquela gente!... Ou seriam as duas coisas que se conjugaram? Será que alguém sabe?!...
Tudo isto, acudia em catadupa à mistura com recordações de factos de vária ordem e vividos no final dos anos quarenta e que tiveram continuidade até aos magníficos anos sessenta e que fizemos questão de "armazenar" com todo o carinho, porque fazem parte das nossas boas recordações e dos melhores exemplos que queremos perservar até ao fim!... É nesta fugaz volta pelo passado, que nos faz esquecer por largos momentos o realismo das paisagens durienses, mas às doze horas, fomos "acordados" através do altifalante para que descêssemos, porque ia ser servido o almoço... Apesar de Rio Mau e Pedorido terem ficado já para trás, fiquei só no exterior do Pirata Azul a digerir as emoções e convencido de que nenhum dos acompanhantes terá suspeitado das nossas raízes e deste nosso envolvimento a toda esta região do Douro!

- Um grande abraço para os nossos conterrâneos de Rio Mau!

Nota: Esta é uma cópia do post que publicamos no blogue PEdorido.com

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Pedorido visto do rio Douro! 5ª Parte




Teriam decorrido cerca de duas horas de viagem e Germunde aparecia já ao alcance da nossa vista! De propósito, preferimos um espaço isolado, donde fosse possível não só olhar, mas também esconder alguma emoção, porque não foi em vão que ali acordamos para o mundo do trabalho e onde viríamos a criar boas amizades, tudo isto durante a nossa juventude!
Assim de repente e volvidos quase cinquenta anos muita coisa mudou!... O lugar é o mesmo, mas nota-se o silêncio do abandono depois do fecho das minas da Carbonífera! Até o teleférico que escoava o carvão retirado às entranhas sumiu, o que leva a supor, que às estruturas metálicas que por ali abundavam terá acontecido coisa semelhante!... O arvoredo, tomou conta de grande parte de toda a zona inclinada até ao rio e devido a essa metamorfose o verde está muito mais acentuado e o negro já perdeu a expressão de outrora o que não deixa de ser normal em consequência do fecho das minas!... Mas, há um outro pormenor, que memorizamos dos anos cinquenta e sessenta e que já não é possível visionar, aqui, nesta margem esquerda do Douro... Estamos a relembrar a "frota" de rabões, aqui bem perfilados e ancorados à espera de vez, para receber a carga de carvão e partir de seguida, rio abaixo, a caminho dos cais de Campanhã e do Porto, com a finalidade de movimentar uma boa parte deste País!
Se dúvidas houvesse, o edifício do Poço Mestre continua ali firme, e, a destacar-se, como que a assinalar um pouco mais acima, a meio da encosta adjacente ao rio Douro, toda a história de várias gerações de mineiros!!!!.... Faltará ali, sòmente, o símbolo que melhor representaria toda a época mineira e estamos a referir-nos ao briquete incandescente... Visto ao perto e do rio Douro seria como que a homenagem certa no lugar certo!
Mas as emoções não iriam ficar por ali, porque de seguida, Pedorido e Rio Mau surgiriam como que apressadas, mas tiveram que ser pacientes, e, perceber, que, o nosso imaginário iria perder-se por algum tempo de volta às recordações do que foi a quinta de Fornelo, ali, com o rio a seus pés e que mais parecia um jardim durante os doze meses do ano e onde fomos tão feliz!!!...
E, eis, que, de repente, aparece o esplendor da igreja da nossa aldeia de Pedorido, devidamente enquadrada com o Douro e com o ambiente, e, que, só agora, deu para perceber da visão e da competência do pessoal técnico dos anos quarenta! É claro que os tempos ocasionaram diversas alterações físicas no meio, mas, ficamos com a ideia de que a aldeia estará mais ribeirinha e mais aconchegada, porque se terá abandonado a ideia de outrora de construírem as novas casas nos pontos mais altos e de difícil acesso. Com o fecho das minas o pensamento das novas gentes poderá estar à procura de voltar à proximidade dos rios e poderá ser como que um retorno a um passado mais longínquo!... Vendo por esse lado, será mais original e talvez mais primitivo, uma espécie de reconciliação com os nossos antepassados que muito justamente teriam começado por se instalar desconfortavelmente e com os olhares não muito distantes das margens do Douro e do Arda!
Todo aquele enquadramento actual entre o arvoredo mais antigo com as pontes e com a foz do Arda é de uma beleza única em todo o Baixo Douro, e, a praia fluvial, mesmo ao lado, veio dar a oportunidade que sempre faltara aos pedoridenses e àqueles forasteiros que fazem desta praia a sua preferida...
A sensibilidade que fomos adquirindo ao longo da nossa vida, diz-nos, que Pedorido tem agora um aspecto mais jovial e mais bem cuidado, e, parece-nos, que terá perdido aquele ar sombrio e mais escuro de outros tempos!... Do centro deste belo rio Douro, gostamos do que observamos e temos muito orgulho de cá termos vivido até 1963!

-Um abraço do tamanho do Arda!

terça-feira, 14 de setembro de 2010

Pedorido visto do rio Douro! 4ª Parte



Custou a despegar o olhar de Melres e da sua ribeira, que sempre havíamos guardado bem lá no fundo e sentimos como que um misto de saudade e alegria, porque nos pareceu, que o actual rio Douro não terá mexido ou alterado o que era fisicamente aquela linda povoação nos anos cinquenta! Por vezes somos traídos pela imaginação, e, no caso, vivíamos com a ideia de que as águas do "novo" Douro teriam "invadido" uma parte de Melres e da sua viçosa ribeira... Foi como que o transportar de um "peso" que carregamos durante muito tempo e, no final, sentirmos o alívio dessa libertação, mas não sermos capazes de encontrar as palavras certas para tamanho alívio...
Quem não se recorda dos mineiros que diariamente transpunham o rio vindos daquela margem, e, que, volvidos trinta minutos eram "engolidos" para as entranhas da terra durante horas seguidas?!... E ao recordar Melres, é mais que justo relembrar aqui, aquele jovem louro, de aspecto nórdico, que dava pelo nome de António Vieira da Rocha, um exímio lançador do martelo no início dos anos cinquenta e que no velhinho campo entre Pedorido e a Póvoa, tantas vezes vimos lançar o engenho a distâncias que para a época eram um espanto!... Bela prática desportiva e a "feijões", que é como quem diz, sem ganhar tostões nem milhões, e, só faltará acrescentar, que, a sua primeira profissão foi como mineiro, e, só mais tarde seria transferido para as Obras, uma espécie de construção civil da Carbonífera! Ou seja o mérito viria depois das provas dadas!...
A Lomba sempre viveu um pouco escondida em resultado daquele ziguezaguear do Douro, mas que soube aproveitar mais tarde aquele grande espaço junto do rio e construir ali uma praia fluvial, onde é notório o bom aspecto de ponta a ponta e que aqui registamos! Dos tempos de miúdo, vem-nos à lembrança os sermões do padre Regadas, cuja fama de orador ecoou pelas terras ao redor e pelos vales circundantes e de que nos recordamos ainda, daquele longo sermão na esplendorosa igreja de Pedorido, onde aquele abade repetiu, vezes sem conta, a frase que seria o título que escolhera e que estivera na origem de tão polémico sermão:-« ... É PERIGOSO DIZER A VERDADE!...» Hoje, temos fortes dúvidas que em meados dos anos cinquenta estivesse a ser entendido por algum dos presentes, dado que se tratava de sermões demasiado filosóficos, teóricos, se quisermos, sem chamar os bois pelos nomes, quando deveria saber-se que se tratava de assistências quase analfabetas e habituadas a trabalhos duros e a vida difíceis...
Achamos curioso, passado todo este tempo, estas recordações "saltarem cá para fora", num sinal para nós, claríssimo, de que não vamos agora, nem amanhã, esconder o realismo de uma época, que também foi a nossa e da qual memorizamos o essencial! E o essencial foi perceber, que, com o passar dos tempos, as mentalidades são capazes de evoluir, e, se, hoje, nos foi possível navegar Douro acima, num barco com alguma dimensão e conforto, não vamos querer esquecer aquele outro tempo em que fizemos idêntico caminho, rio abaixo, rio acima, a bordo de uma pequena lancha, sem comodidade alguma, mas onde reinava a alegria de uma juventude, que, viria, uns anos mais tarde, a dar o seu melhor para as mudanças que o país aplaudiu e que só terão pecado por tardias!...

-Se tens amor à tua região, divulga-a!

Etiquetas: Religiões, rios, mentalidades, filosofia, atletismo, Melres, Lomba, minas, barcos, Douro, praia fluvial, mestre Arnaldo, padres.

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Pedorido visto do rio Douro! 3ª Parte





As duas cidades ficaram lá para trás e podíamos dizer que esquecidas, e, assim que subimos na barragem de Crestuma, sabíamos que estávamos no mesmo nível das águas na foz do Arda! Começamos por ouvir os esclarecimentos na nossa língua, claro, mas também em inglês, espanhol e francês, de que à nossa esquerda podíamos ver as antigas instalações da central térmica da Tapada do Outeiro e que fora alimentada até 1994 pelo carvão proveniente das minas do Pejão... Conhecíamos bem demais a história, mas este relembrar, que correspondia na íntegra, apenas veio avivar, só isso!...
A partir dali, já nos começávamos a familiarizar com estas margens e foi bom até pela diferença com outros tempos, poder apreciar os diversos tipos de canoas que treinavam com afinco, rio acima, porque gostamos da envolvência e do contraste que mantinham com o rio e com o verde do arvoredo, que era diversificado e de vários tons de verde, e, de outras cores, que davam um contraste singular e de que não estávamos à espera!... A Natureza no seu melhor!
Foi bom rever Pedemoura e Melres volvidos mais de cinquenta anos e será justo relembrar aqui o veterano Zé Noronha, um homem que se prontificava com paixão a combinar e a capitanear os encontros de futebol amigáveis entre Pedorido e os jovens daquelas terras ribeirinhas e onde os jogos iam até ao fim e sem a presença de autoridades!... Naqueles tempos os jovens da nossa terra tinham muita boa qualidade técnica, e, nem seria difícil ao Noronha formar equipas ganhadoras e tem alguma graça recordar, que todos pagavam a viagem da lancha!... Bons tempos, de boas amizades e de alguma ingenuidade à mistura!...
Voltando ao rio para focar o singular ziguezaguear do Douro, que por alturas da Lomba parece baralhar-se a si próprio, como que a hesitar, se há-de ir, se há-de parar e voltar atrás, e, quase nos deixa baralhados a nós também... Um pouco mais acima, vamos deparar com o que nos pareceu uma decisão acertada, quanto à escolha da pista internacional de canoagem para Melres, porque beneficia do tal serpentear do rio, mas também da sublime encosta na margem direita, que, por ser bastante elevada, não vai permitir que os ventos marítimos ali se façam sentir! Ainda acontecem boas decisões neste belo país!...

-Recordar é viver duas vezes!

Nota: Este post é uma cópia do que publicamos no blogue PEdorido.com

sábado, 11 de setembro de 2010

Pedorido visto do rio Douro! 2ª Parte



Diz-se que foram tempos difíceis, e, felizmente, que ainda podem ser testemunhados por um bom número de pessoas ainda vivas e que resistem por todo esse Couto Mineiro - agora desactivado - porque as memórias não se inventam e até resistem aos maus tratos, a maioria das vezes ocasionados por vidas difíceis e pelos piores isolamentos que ninguém escolheria, se ainda pudesse fazer escolhas!...
Essas realidades de um passado não muito longínquo, servirão quando muito para que se retirem as ilações dos valores que as sociedades devem livremente adquirir ou rejeitar, por forma a viverem dentro de padrões aceitáveis e dignos. Esta bagagem nunca está seguramente adquirida, pensamos nós, mas é um facto que foram dados passos nesse sentido, agora há que evitar o retrocesso!...
Pelas recordações de há cinquenta anos - quase uma vida! - tínhamos alguma curiosidade de conhecer melhor o mais recente e actual rio Douro e as zonas que lhe estão adjacentes em ambas as margens e que já não seriam bem iguais!... Nem estamos a referir-nos às zonas ribeirinhas do Porto e Gaia, que, excluindo a presença dos barcos que fazem os Cruzeiros e ainda dos barcos rabelo, que são uma cópia um pouco aproximada, mantém-se no essencial o que sempre foram as duas margens, e, só notamos uma recente novidade entre o cais de Gaia e o quartel do monte da Virgem, sobranceiro ao rio. Está ali em construção um novo teleférico, em fase bastante adiantada e que irá ligar aqueles dois locais da cidade de Gaia, pelo que nos foi dado observar...
Demos início à subida com o mar Atlântico na maré baixa, e, talvez, por esse facto, podemos constatar a grande diversidade de aves com que íamos deparando ao longo do rio e foi uma constante até à barragem de Crestuma, e, se, não nos falhou a contagem, foram seis as pontes memorizadas, se contarmos com a ponte D. Maria, entretanto, desactivada. Não resta qualquer dúvida que ali se aplica o ditado popular:- « Não há fome que não dê em fartura!...» ( Continua )

Nota: Este post é uma cópia do que publicamos no blog PEdorido.com

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Pedorido visto do rio Douro!



Nos últimos anos vacilamos muito se devíamos ou não subir ou descer o rio Douro!...
Tínhamos um confronto interior que não será fácil de explicar, uma vez que são questões que vamos colocando a nós mesmos em certos momentos da nossa curta existência, e, que, nem sequer se prendem com o bem e o mal, mas, unicamente, com a nossa forma de imaginar toda uma região a partir do momento em que fomos sendo preparados desde muito miúdos para um rio, que já viria de muito longe e com cujas actividades nos fomos identificando, ao mesmo tempo que íamos, nós e os outros, partilhando vivências de tarefas que eram dos rios ou que a eles estariam associados.
Mas há aqui aspectos, que queríamos deixar bem claros e que gostávamos de partilhar com os nossos conterrâneos... O primeiro aspecto é que sendo nós um duriense dos anos quarenta, transportamos connosco esse Douro já um pouco antigo e que guardamos quase religiosamente, com profundo respeito por todas as criaturas que conhecemos e com quem convivemos, e, que, como nós, conheceram e amaram os rios Douro, Arda e os demais!... Claro, que estamos a referir-nos e a citar as gentes de Pedorido e Rio Mau, mas também da Póvoa, Sebolido, Melres, Lomba, Oliveira do Arda, Raiva, Folgoso e Serradelo! Todas estas gentes tinham um ponto em comum e de grande coesão, que lhes advinha do facto de se encontrarem de segunda a sábado na mesma labuta e num mesmo trabalho na única companhia a laborar no Couto Mineiro do Pejão!...
Entretanto, esses tempos já passaram e, por coincidência, ou não, os rios viram-se também transformados, os grandes areais do Douro foram escondidos com a subida das águas, os pescadores de Pedorido e Rio Mau passaram a ser uma miragem naquele grande e belo areal de Pedorido, porque ainda temos bem presente, como eram tão ágeis a manobrar os pequenos barcos da pesca ao sável, enquanto outras mãos se prontificavam a deixar cair para as águas "lamacentas" do Douro, uma rede previamente ordenada numa das zonas do barquito de sete metros e de forma a não comprometer toda a tarefa, do princípio ao fim, e, até completar numa espécie de U, já em pleno areal, aquilo que seria uma armadilha para um peixe, que subia sempre apressado na mira duma desova, depois de muitas milhas vencidas e que visava garantir a continuidade da espécie!... E, será que o apressado sável, depois de ter escapado à captura pelas redes montadas a partir de areais a jusante, iria vencer mais este desafio a lançar por pescadores tão experientes como os que operavam no nosso areal de Pedorido?!
Diz-se, que foram tempos difíceis... ( Continua )

Nota: Este post é uma cópia do que publicamos no blogue PEdorido.com

terça-feira, 7 de setembro de 2010

Imaginar Pedorido, os seus rios e as origens!...





Fisicamente Pedorido é como é, mas, pensamos nós, que há largos milhares de anos tudo seria bem diferente e duma forma que a nossa imaginação dificilmente visualizará, mas com os poucos dados de que dispomos, vamos tentar criar algumas ideias, que poderão ter estado no princípio do que foi o estabelecimento da vida humana nestas encostas adjacentes ao Douro, ao Arda e a toda esta vasta região...
É muito provável, que este fosse um corredor de passagem para os diversos povos nómadas que seguiriam os cursos de água como meio de orientação e até da sua própria sobrevivência e a começar pelos mais importantes, como era o rio Douro, mas, é de crer, que outros afluentes também "atraíssem" os mais diversos tipos de tribos, que, naturalmente, viveriam isoladas e se entenderiam por gestos e outro tipo de expressões à falta de dialecto... As margens do Coa, mais rochosas, deixaram testemunhos inequívocos da passagem destes povos mais primitivos e as suas pinturas expressam precisamente o estádio do seu intelecto há cerca de vinte mil anos! Não dominavam qualquer tipo de alfabeto e é de admitir que também deambulassem por estas paragens onde fica hoje Pedorido, que serviria como ponto de passagem. É provável que se atrevessem a mudar de margem, mas só quando o caudal do rio Douro permitisse e é quase certo que tenham usado o tronco das árvores como primeiro meio de transporte fluvial e aproveitando a correnteza do rio!
Seguramente que estávamos perante uma vegetação muito diferente da que chegou até nós, muito propícia ao desenvolvimento de uma abundante diversidade de caça grossa, a julgar pelas pinturas do Coa...
A fixação bastante mais tarde a uma determinada zona, trouxe como consequência lógica a mudança de hábitos e é bem provável, que, já nesta altura, tivesse tido início uma espécie de dialecto, quando o apego à terra gerou o aparecimento da agricultura, enquanto mantinham os hábitos ancestrais da caça e da pesca e se embrenhavam pela primeira vez na pastorície onde iriam buscar o leite, a carne e a lã para um vestuário que muito ajudaria ao seu agasalho! Esta fixação aos locais iria gerar o surgimento de novos fenómenos a começar pela construção de tipos de habitação débeis e muito precários, assim como o surgimento de guerras entre tribos ou etnias, uns porque queriam manter o que consideravam sua pertença, enquanto que os invasores se achavam com direito à conquista e a não permitir que outras formas de vida se instalassem!...
Todos estes processos teriam sido lentos, demasiado lentos, para a nossa compreensão actual, e, nenhum de nós, estará agora a pensar, que será o descendente de homens e mulheres, que viveram e deambularam durante milhares de anos por estas paragens, com uma simples tanga, que caçavam de arco e flecha e que estariam bem longe de imaginar e ver o que os nossos olhos viram naquela ribeira do Arda há apenas sessenta anos, na década de cinquenta, uma agricultura que mais parecia um jardim, só trabalho do homem e que contava com a ajuda do arado e das juntas de bois, assim, como também estariam bem longe de imaginar, que volvidos cerca de vinte mil anos, muitos dos seus descendentes iriam tornar-se mineiros, um modo de vida a que chamaram profissão e que não estaria no horizonte daquelas gentes tão primitivas, que, ao longo dos tempos, se foram misturando com outros povos, que, por cá, haveriam de aparecer, vindos de sítios tão distantes como as estepes asiáticas!...
Digam lá, pedoridenses, não foi um bom exercício repensar as nossas origens?!...
E, já teriam sequer sonhado ter feito parte, embora de forma indirecta, de vidas tão primitivas e desconfortáveis?!...

-UM POVO SEM MEMÓRIA É UM POVO SEM RUMO!

Nota: Esta é uma cópia do post publicado no blog PEdorido.com