sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Histórias Mínimas IV

Depois de tantos anos a labutar por este País fora, e foram 50 anos de trabalho, é com bastante regozijo que chego à REFORMA, e poder, finalmente, concentrar-me e tentar associar os factos que de alguma forma vivi, ou simplesmente acompanhei de perto!É certo que o que se passa comigo, passa-se com o comum dos mortais, no entanto um belo dia a felicidade guiou-me até ao blog Pedorido.com e resolvi " entrar" numa tentativa de reencontrar o que havia "perdido", ou seja o contacto com as gentes de Pedorido e Rio Mau. Sei que não voltaremos à meninice, mas é muito salutar,dá-nos vontade de reviver ou recordar episódios que fizeram parte da nossa formação, ou nao!A verdade é que tenho muitas MEMÓRIAS de Rio Mau, onde nasci, e onde vivi até aos sete anos, altura em que me mudei para Pedorido e onde permaneci até aos vinte!
Quero aqui relembrar um ponto que os miúdos de ambas as localidades tinham em comum no Verão:- Qualquer miúdo com pretensões a ser nadador teria de frequentar a Levada ( Rio Mau) e a Paçaria (Pedorido). BONS TEMPOS!...
Já em Pedorido era chegada a década de CINQUENTA e os miúdos começavam, finalmente, em grande parte,a levar os estudos até à 4ª classe, criando-se, talvez, a partir daqui e no que ao ENSINO dizia respeito, um fosso entre eles, os pais e os avós!É por estas alturas que me recordo bem de ouvir contar a muitas e variadas criaturas, mais velhas, claro, contos e histórias de bruxas, lobisomens, diabos e outros afins... Garantiam ser verdade, tanto mais que tinha sido fulano e sicrano, que tinham, segundo eles, toda a reputação!Claro, que em boa verdade sempre duvidei, mas em rigor não tínhamos como rejeitar. Se os mais velhos afirmavam...É aqui que entra a nossa história de hoje, que me foi contada por um snr. já falecido e que dava pelo nome de Zé Paroba! Este bom homem repetia-se muito a contar as suas histórias, e, esta ouvia seguramente umas dúzias de vezes, sem nunca pôr em causa a sua veracidade! Vamos à história:
- O TI ZÉ PAROBA trabalhava por turnos como guarda dos barcos em Germunde e numa dessas noites mais escuras, tenebrosas, passava da meia-noite e no regresso a casa era "obrigatório" passar junto ao cemitério de Pedorido e sobre os cemitérios contavam-se histórias de arrepiar...Precisamente quando o nosso homem depois de vencer aquela subida íngreme e atingir a zona mais plana ficando assim ao nível da igreja e do cemitério, a porta do cemitério abre-se fazendo um barulho e uma chiadeira que pela calada da noite deixaria aterrado mesmo o mais afoito!... Bem, o TI ZÉ PAROBA contava que apanhou o maior cagaço de toda a sua vida e que o sangue se lhe gelara no corpo!... Passados aqueles breves momentos, que será impossível quantificar em tempo útil, desvia instintivamente o olhar para a entrada do cemitério e constata que na sua direcção saía um vulto e que ele reconheceu ser o Dr. Pinho, um médico muito querido em Pedorido e em todo o Couto Mineiro e que infelizmente viria a desaparecer prematuramente!... Refeito do abanão monumental que havia sofrido e ligeiramente mais encorajado, até porque não se confirmara nenhum daqueles cenários que desde miúdo habitavam a sua cabeça, dá início a um diálogo que o iria surpreender e marcar para o resto dos seus dias : - «Ó Snr. Dr. pregou-me, agora , um grande susto!...» «Sabes ZÉ» - respondeu-lhe o médico - «Venho ao cemitério depois da meia-noite, porque ouço o povo dizer que os mortos aparecem a essa hora e eu gostava imenso de voltar a falar com a minha mãe!...Só que nunca tive semelhante sorte!»
Percebe-se pelo diálogo entre estes dois homens e àquela hora da noite como eram tão diferentes os seus mundos! Um homem da ciência médica, sem medo algum, pronto a entrar num cemitério, sòzinho, mas que tinha dúvidas, muitas dúvidas, sobretudo em relação ao que se passará para lá da morte; daí ir ao encontro duma certa crendice popular, tão antiga como o Homem, que no seu caso, até dava imenso jeito, porque possibilitava voltar a ver e a falar com a pessoa que com certeza mais teria amado neste MUNDO: a sua MÃE!...

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