terça-feira, 24 de agosto de 2010

Desabafos de um Barco do Douro! ( Parte 5 )

...« É este "chega p'ra lá" que até a nós custa a "engolir", quando se percebe que as dificuldades com as vistorias e certidões aos pequenos barcos como nós, são a ante-câmara de uma morte anunciada, uma vez que se trata de exigências que visam cansar os donos e familiares dos poucos barcos que vão restando Douro acima... Tudo isto para quê?! Para que se invista nos barcos de fibra e a motor, de preferência, como, se, de repente, este país passasse a ser o país das maravilhas, que não é, nunca foi, e não será nos tempos mais próximos!
Vivemos com o "credo na boca", porque nem sabemos o que pensa o meu actual dono, se é que tem alguma posição, porque este é outro mal por aqui enraizado, sendo muito frequente deparar com pessoas que se auto-marginalizam dos seus interesses, mantendo uma posição dúbia em que "nem são peixe nem carne", facilitando com a sua posição os que se organizaram e que conhecem bem demais os pontos fracos das boas gentes ribeirinhas...
Gostamos do que somos e nunca aspiramos vir a ser um outro barco, mais soberbo, a começar por umas linhas mais arredondadas, cheias de estilo e com cores próprias de paisagens exóticas, equipado com motor de alta cilindrada e com altas garantias de que não polui as águas, nem as margens, com baixo consumo, mesmo nas altas rotações, mas depois lá se descobre que nem é tanto assim, mas o negócio já está consumado e... "p'ra frente é que é Lisboa"!
Querem um outro exemplo, aqui vai:- O meu actual dono, que foi mineiro nas minas de Germunde e com algum prestígio na classe, nunca se pronunciou junto de mim e desconheço em absoluto o que pensará, mas nós não somos assim tão estúpido e lá vamos tirando algumas conclusões! Como é bastante conhecido em toda a aldeia, relaciona-se com muita gente e até com pessoas que regularmente vêm rio acima, nas suas lanchas com barco a motor, e, pelo que vamos "escutando" o centro das conversas continuam a ser as minas, os poços, as galerias, os mineiros e as suas histórias, onde é inevitável falar-se de todas as peripécias que acompanharam o fecho das minas de carvão em noventa e quatro, mas, curiosamente, nunca se debruça acerca das questões actuais e futuras do rio... Quer-me parecer, que esta criatura, que me parece bom homem, não será bem um pescador, daqueles que em tempos idos viviam do rio e para o rio e já o "apanhei" a comentar com pessoas amigas, que gostava de vir ao rio distrair-se, apanhar o ar puro que vem canalizado do Atlântico, mas que fazia "disto" um "hoby", porque tinha a sua reforma de mineiro e que não estava para se chatear muito... Confesso que ficamos tristes, amargurados e até a nossa madeira parece que mudou de cor e pela primeira vez sentimos calafrios muito próximos daqueles que os humanos, por vezes sentem, porque a nossa imaginação diz-nos, que, situações destas serão "o pão nosso de cada dia", e, se isso for certo, o nosso fim poderá estar para breve!... Quem nos acode?!... »

- SE GOSTAS DA TUA REGIÃO, NÃO HESITES, DIVULGA-A!

Nota: Esta é uma cópia do post que publiquei no blog PEdorido.com

Desabafos de um Barco do Douro! ( Parte 4 )

... Somos um barco já com muitos anos no Douro e assistimos ao marasmo de largos períodos, que foram o que foram e que já ninguém poderá remediar! Quando muda o paradigma, fica-se com a sensação de que se passou para um certo deslumbramento que iria ter repercussões em toda esta bacia do Douro, e porquê?! Comportaram-se de certa forma, como se passássemos de pobres a ricos, da noite para o dia e decidiram ignorar, pura e simplesmente, as gentes ribeirinhas, fazendo de conta que por cá já não morasse viv'alma, num claro desprezo pelas populações que por aqui habitam há centenas de anos e com fortes ligações aos rios, sim, porque os afluentes fazem parte do rio Douro, aliás, sem eles, o rio Douro não passaria de um riacho em boa parte do ano!...
Claro, que os homens dos negócios só sabem negociar, querem ganhar dinheiro e até nós barcos percebemos essa gente, mas as regras e os compromissos nunca deveriam ignorar os reais interesses da tão apregoada bio-diversidade em toda a bacia do Douro, onde estão incluídos os afluentes e depois de todas as salvaguardas, que ganhassem todo o dinheiro possível e imaginário que ninguém levaria a mal!... Só que as pressas oportunísticas e o protagonismo de quem quer a todo o custo ficar na história, ensombra-lhes a racionalidade, ao mesmo tempo que sobressai a arrogância, que será dos defeitos piores a que os humanos tanto gostam de deitar mão, e, a partir daí, não fazem um esforço mínimo para parar e escutar razões e anseios de quem está farto de ser abandonado e esquecido, e, com todos estes erros de palmatória, que já vêm de muito longe, desbaratam em três tempos aquilo que poderia ser um bom sonho para os novos tempos...
Enquanto estamos por aqui "atracados" na Lingueta, horas a fio e às vezes até dias, aproveitamos para magicar em tudo isto, e, "vimos" com alguma clareza o que nos espera e pensamos com toda a lucidez possível, que, se notamos esta falta de respeito primário para com os humanos, muito mais fácil será "determinar" que se abata este tipo de embarcações, que, tal como nós, valboeiro, vêm do rio antigo e já não se "enquadram" no tal novo-riquismo inventado pela cabeça desta gente, que é uma pena ainda não terem acordado para a vida... Infelizmente, não lhes interessa perceber que as realidades existem, e, são o que são, e, nem essa gente, nem ninguém, irá mudar as realidades que são diversas e salutares, até porque será culturalmente um contra-senso dificultar a nossa continuidade neste rio Douro, só porque tornaram possível a subida e descida de iates e de outras embarcações de recreio e lazer! ( Continua )

UM POVO SEM MEMÓRIA É UM POVO SEM RUMO!

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Desabafos de um Barco do Douro! ( Parte 3 )

... O facto de estarmos agora aqui atracado ou "amarrado", se quiserem, na Lingueta, não significa que tenhamos sido abatidos ou coisa parecida, para já!!!!!...... Nada disso, até porque temos um "dono", que é um termo pouco do nosso agrado, uma vez que apreciamos de verdade o termo de barqueiro e não é só pela terminologia ser a mais correcta, nada disso, mas por vir do antigo, das nossas origens, com que nos identificamos e de que temos uma enorme saudade, que nem será difícil de aceitar... Mas, se essa aceitação for assim tão custosa, nós até percebemos sem que a aceitemos, obviamente!... Julgamos conhecer as principais razões do que foi acontecendo ao longo dos tempos para estas bandas do Douro, e, não nos conformamos com a proporção a que as coisas chegaram, e, é nestes momentos, que são raros, quase únicos, que gostaríamos de ter uma espécie de boca com língua para poder "falar", mesmo de maneira diferente dos humanos, com quem não queríamos "pedir meças", nada disso, mas somente poder "trazer à baila", factos verídicos e passados com outros humanos, que connosco lutaram lado a lado e que deram quase uma vida inteira pelo seu rio, e, não estou só a lembrar-me de barqueiros e pescadores anónimos, que ora eram uma coisa, para de seguida serem a outra, sem esquecer os pequenos lavradores ou simples caseiros, que sobreviviam com o muito pouco que retiravam das terras que eram dos donos, sujeitando-se "anos a fio" sem um queixume e recorrendo sazonalmente aos rios, para deles receber a parte que as terras não conseguiam dar!
Lá porque somos um barco, não perdemos a sensibilidade e achamos que não favorece a sociedade actual e futuras, este corte quase radical com o passado, de desrespeito e até desprezo com as gentes ribeirinhas, que será a consequência de falhas graves e culturais, que já virão de trás, em que as responsabilidades serão de todos, mas que deverão ser repartidas de forma desigual, cabendo aos mais responsáveis as maiores culpas, porque é muito feio arranjar sempre desculpas, como é timbre neste território que tem o rio Douro e que nós adoramos! ( CONTINUA )

Nota: Cópia do post que publicamos no blogue PEdorido.com

sábado, 21 de agosto de 2010

Memórias de um barco do Douro! ( Parte 2 )


... Só tínhamos a noção de sermos um barco muito pequeno por alturas das grandes cheias do rio Douro, e, durante esses curtos períodos, até que apreciávamos que os nossos barqueiros se voltassem para os afluentes, e, sentíamos uma nova emoção penetrar nestas ocasiões pelo rio Mau ou mesmo pelo Arda fora e encostar nas suas margens, talvez por percebermos, que eram momentos muito raros e de excepção, e, ainda recordo, que tínhamos um comportamento que fazia lembrar as crianças com o seu temperamento alegre, mas irrequieto e imprevisível, capaz de criar alguns problemas ao barqueiro em qualquer ponto do rio, caso este perdesse a concentração, por momentos que fosse...
Lembro-me como se fosse hoje, que éramos um barco que não gostava de estar parado e detestávamos as horas de descanso dos pescadores, que, por vezes, também eram mineiros ou lavradores, e, embora não decidíssemos o que quer que fosse, tínhamos também as nossas manias e até as nossas preferências no movimento à ré, coisa inexplicável, sem justificação, assim como adorávamos as travagens, um processo bastante usado com ambas as pás dos remos e até as consequentes mudanças de direcção!... Delirávamos com tais manobras, sem saber muito bem porquê, e, já não sentíamos o mesmo quando os nossos barqueiros - e foram muitos! - se ocupavam do movimento de proa, que era o mais normal, ou melhor, o mais utilizado. Sim, remava-se, preferencialmente, de frente e para a frente, o que talvez vá dar razão àquele ditado popular que diz, "em frente é que é Lisboa!", mas não sabemos se tem a ver uma coisa com a outra...
Ah, mas voltando ainda às grandes cheias, para relembrar a mim mesmo o que foram todos aqueles momentos, bem mais raros, felizmente, em que as águas sujas, cor de barro, escondiam a vossa e "nossa" ponte velha! Era como se não existisse e a "nossa emoção" era grande ao passarmos em todos os sentidos, por cima duma ponte de ferro, que desaparecera aos olhos de toda a gente e nem era tão pequena quanto isso!... Da noite para o dia, tudo se modificara com a subida das águas, e, passara a ser um ambiente muito estranho, por ser coisa rara e que até aos barcos meteria uma certa confusão, enquanto dava para ver a impotência e o temor dos homens e das mulheres, enquanto as crianças em idade escolar quase ficavam sem fala ao ver pela primeira vez um cenário que desconheciam e que bem poderia deixar marcas!... É a vida! (Continua) )


Nota: Este post é inteiramente dedicado ao meu grande amigo Valdemar Ferreira pelo grande amor e dedicação de uma vida aos rios, aos barcos e a toda a região do Douro!

Memórias de um barco do Douro!

«Somos um pequeno barco saveiro, já com alguma idade, mas quem olha para nós não ficará com uma ideia do nosso historial, que surge do rio mais antigo e que trazemos na memória!
O facto de nos encontrarmos aqui parados na Lingueta tem a ver com os tempos actuais, onde até a pesca é bem diferente de outros tempos não muito longínquos, e, que, estiveram na origem do nosso aparecimento. Era a época dos areais dispersos ao longo de ambas as margens do rio Douro, ora na esquerda, ora na direita e que os nossos inventores tiveram o cuidado de perceber, para a seguir poder transformar a ideia num barco de características adequadas às múltiplas tarefas, que as gentes ribeirinhas tinham para lhes atribuir! Foi assim que quem teve a felicidade de acompanhar o nosso desempenho como barco, ao longo do tempo e dos diferentes tipos de caudal, que o Douro ia proporcionando, concluiu que estava encontrado o barco que melhor serviria e mais ninguém pensou em outros inventos para os nossos afazeres.
Acontecia, por tudo isto, que os donos mais cuidadosos, tinham com os seus pequenos barcos cuidados primários ao reforçarem toda a calafetagem, assim que achassem necessário e até a pintura era retocada em todo o exterior de dois em dois anos, porque um barco novo representava um preço muito elevado, enquanto uma boa manutenção dava todas as garantias para muitos e bons anos de actividade, umas vezes no transporte das gentes ribeirinhas entre ambas as margens, ou ainda nos vários tipos de pesca,- muito similares - que se levavam a cabo desde o areio de Melres, passando pelo de Pedorido e tendo boa continuidade um pouco acima no grande areio d´Hortos!... ( Continua )

Nota: Cópia do post publicado no blog PEdorido.com

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Diálogos com o nosso rio Arda!... ( Parte 6 )

Resolvemos dar prioridade em voltar às margens do Arda por acharmos que as responsabilidades agora passaram a ser nossas, a partir do momento em que ouvimos com clareza a voz do Arda clamar que tinha argumentos e objectivos e que queria dá-los a conhecer em primeira mão às gentes da região! A verdade é que mal aparecemos, nos reconheceu de imediato e nem perdeu tempo nas apresentações, para passar a explicar:

«- Nós os rios sempre fomos muito práticos desde as nossas origens e as nossas águas não tolerariam quaisquer demoras a que vós chamais burocracias... Mas com toda a franqueza, pior que todas as burocracias humanas - que são um problema vosso - é a praga da poluição que suportamos dentro de nós e ao longo das nossas margens de quase quarenta quilómetros, desde o abendiçoado vale de Arouca - que o grande Aquilino imortalizou no Malhadinhas - até atingirmos a foz à vista da vossa linda aldeia de Pedorido e deste lugar de eleição que é as Concas!...
Temos que dizê-lo muito frontalmente, que vários factores contribuem para que este flagelo da poluição, tenha vindo para ficar e o principal factor prende-se com a falta de raiz duma educação ambiental desde o berço, que, é como quem diz, a começar no seio das famílias, com a devida continuidade nos programas escolares e a seguir nas empresas de todas as dimensões, e, claro está, nas autarquias, que deviam ter um papel importantíssimo e mesmo determinante, não só na continuação da formação dos munícipes, mas, porque não, no combate firme contra os prevaricadores, que sempre irão existir ao longo da história dos povos e sem ter medo de vir a perder meia dúzia de votos...
Estes dados de que vos "falo" nem são novidades para quem está atento, mas as resistências às regras e ao cumprimento são enormes, e, por ser assim, estou de acordo com aquele humano, anónimo, que há algum tempo atrás, aqui, junto das minhas margens e com todo este lindo cenário a servir de testemunha, dizia, "alto e bom som", que Democracia não é bandalheira e estava a referir-se à poluição em geral e nos rios em particular, ao mesmo tempo que citava exemplos muito tristes de gente muito rasteira e sem escrúpulos!...»

Bem, quem fala assim merece respeito e a nossa reflexão e decidíamo-nos por um compasso de espera, ao verificar que tínhamos já na nossa posse um conjunto de boas ideias e vindas do nosso Arda, que, muito justamente, sobe na nossa cotação e na cotação das muitas pessoas que vêm fazendo das suas vidas um combate sério e digno, para que a vida na Terra não continue a ser posta em causa por gente irresponsável e criminosa, há que dizê-lo!
Obrigado velho amigo e gostaríamos que continuasses a ser um dos nossos rios mais queridos!...

- Se temos amor pela nossa região, o que temos a fazer é divulgá-la!
Nota: Este post é uma cópia do que publicamos no blog PEdorido.com

sábado, 7 de agosto de 2010

Diálogos com o nosso Arda!... ( Parte 5 )

Como é maravilhoso ter esta felicidade de reencontrar o nosso rio passados quase sessenta anos e poder escutar os seus anseios e preocupações, que serão de ontem e de hoje e que ninguém saberá sintetizar tão bem como ele e que podem ajudar os humanos não só a repensar o que têm em mente, e, se for caso disso, mudar de rumos já traçados, reavaliando prioridades, como esta de olhar mais para os nossos rios - grandes e pequenos - como necessidades urgentes e de que todos sairão a beneficiar: os rios, os humanos e toda a vida na Terra!
Escutêmo-lo com a atenção que nos merece:
«- Sempre que falamos no lazer e no turismo, os nossos amigos humanos de Pedorido, Raiva, Oliveira do Arda, Folgoso, S. Eulália, S. Miguel do Mato, Tropeço e mesmo Arouca, sem esquecer os demais, pensam no imediato no grande turismo de outras paragens, bem longínquas, em que é necessário tomar o avião ou o transatlântico para se deslocar até locais que ficam distantes e dispendiosos...
Nos nossos contactos entre rios - fazêmo-lo há milhões de anos - e sempre que uso da "palavra" - como vocês humanos dizem - referencio sempre este tema da minha bacia do Arda e ainda não mudei de argumentos e muito menos de objectivos... O meu pai, que é um querido, acaba sempre por me dar razão e vai dizendo com a convicção de quem sabe do que "fala", que a seu tempo vou ser escutado, mas há companheiros nossos, que, quando tomam a "palavra" até ignoram tudo quanto nós dissemos e vêm sempre com os velho discursos das "prioridades" e das "convergências", sem chamar os "bois pelos nomes" e não há maneira de sairmos disto...
Considero que são influências e mentalidades que vêm de muito longe, dos nossos velhos tempos e que são quase comparáveis às vossas já distantes monarquias conservadoras e austeras e que tiveram continuidade na cabeça de republicanos, que assim se auto-intitulavam e que "nem eram carne nem peixe", como nós tanto gostamos de ouvir, por aqui, às boas gentes ribeirinhas do Arda e do Douro!
Modéstia àparte, sabemos que temos ideias e sabemos que há futuro para mais uns milhões de anos, daí o nosso interesse em transmitir essas ideias para que sejam conhecidas e divulgadas também aos humanos, com quem contamos para que as estudem e saibam levá-las à prática.
Porque, nem sequer temos rosto, nem vestimos fatos da alta costura internacional, nem temos a obsessão do protagonismo de que muitos humanos sofrem, entendemos que seria correcto, mais correcto, dar a saber em primeira mão o que nós como rio pensamos para a nossa bacia do Arda e aproveitamos este vosso contacto para o dar a conhecer ao povo anónimo e a "todo o mundo", uma expressão tão cara do povo brasileiro, vosso irmão, como os dois não se cansam de repetir! »
Assim que o nosso Arda acabou de "falar", fiquei por ali, na sua margem, uns bons cinco minutos, sem fala e pensativo, reflectindo em tudo quanto ouvira e agradecido com a humildade que fui capaz de rebuscar bem lá no fundo, mas que ainda cá mora, e, que farei questão de preservar, contra ventos e marés, se tais tempestades aparecerem por estas bandas, e, se, entretanto, por aqui continuarmos nos poucos dias que ainda temos por contar!
Sim, porque queremos voltar para dar continuidade à conversa por ambos iniciada!
- É nosso dever divulgar o Arda e toda a região que o envolve!
Nota: Este post é uma cópia do que publicamos no blog PEdorido.com

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Dialogando com o nosso Rio!... ( Parte 4 )

«Queria começar por vos dizer que sabemos que estais muito interessado em conhecer as "nossas memórias", porque sabeis, ou imaginais, que teremos muito para vos contar, e, até creio, que não devemos estar enganados, se vos disser, que andareis mais interessado nas novidades actuais, nessas fofoquices, que duma forma ou de outra, se dizem, aqui e acolá, que, nós rios, preferimos ignorar, embora estejamos sempre por aqui, entre estas duas margens, e, nem sejamos achados para nada, habituámo-nos a saber conviver com todas as criaturas, humanos e outras, porque sabemos que temos a cumprir com o nosso grande objectivo, e, que, custe o que custar, ninguém nos irá impedir de completar o ciclo da água, que, no nosso caso, será trazer o nosso curso de água desde a nascente à foz, aqui junto desta linda aldeia de Pedorido!
O nosso rio maior, nosso respeitável pai, saberá dar continuidade ao que nós iniciamos e sempre o fez com toda a dignidade, levando as nossas águas e de outros até aos braços do mar Atlântico, e, nós gostaríamos, que as gentes ribeirinhas de que fazeis parte soubessem mais a nosso respeito, porque temos uma grande experiência de vida e não tendo uma inteligência à altura da vossa, estamos fartos de saber que grande parte das vossas gentes mal nos conhece, e, nós sentimos uma espécie de tristeza, que não é igual à vossa, mas que é muito sofrida, que se confunde com as nossas águas, e, será por isso, que vós nem dareis pelo fenómeno!... Essa espécie de amargura - podeis tomar nota - reside no facto de termos a noção de sermos um rio pequeno, que mal vem nos manuais e dá a sensação que contamos pouco, por isso mesmo, por sermos pequeno e provinciano, como se diz por cá!...
Ora, gostaríamos, que as coisas não fossem assim e que todos os habitantes desta linda aldeia de Pedorido soubessem, que começamos a nossa caminhada ali bem perto da bela vila de Arouca com um reduzido caudal inicial, a que se vêm juntar as águas de pequenos riachos, ao mesmo tempo que vamos encontrando pelo "caminho" algumas pequenas povoações, e ao fim de quarenta quilómetros, já com um caudal que não "envergonha" chegamos aqui à foz nesta vossa linda aldeia, que nos dá a visibilidade merecida!
Porque fizestes jus ao nosso pedido, ficamos a partir de agora sempre disponível para trocarmos saberes, experiências, recordações, todo o tipo de recordações, das mais antigas às mais recentes, e, digo-vos já, que, vocês os humanos, quando querem até são fixes e não vemos razão para que deixem de o ser!... » ( Continua )
-Um grande abraço para Pedorido e toda a bacia do Arda!
- Nota: Este post é uma cópia da nossa publicação no blog PEdorido.com

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Diálogo com o nosso Rio!... ( Parte 3 )


As revelações não paravam de nos surpreender pela boca de um rio que falava como se fora um livro aberto, e, por quem sentíamos uma grande ternura desde os oito anos de idade, pudera, nem era para menos, quando sabemos que sempre nos recebeu bem durante todos aqueles meses de Verão, para nós já um pouco longínquos, mas que sabe tão bem recordar aquela Passaria transformada em piscina dos jovens da aldeia, que ali se divertiam à vontade ao mesmo tempo que punham cá para fora toda aquela adrenalina, própria de uma juventude que se quer libertar sem prejudicar terceiros! De resto, o nosso amigo rio tem tudo isso bem presente - confidenciou-me - e foi ao ponto de nos revelar ser conhecedor de tantas coisas indiscretas, que não vêm para o caso e que jurou não divulgar e está no seu pleno direito...

-« Por vezes faço escutas, ou melhor ouço as pessoas a falar, falar, bem perto das minhas margens, que são a esquerda e a direita, mas não o faço premeditadamente, só que não posso mudar de sítio e essas mesmas pessoas não percebem que nós temos também essa capacidade de escutar e de seguida guardar, se for caso disso, porque lá está, temos uma "rica" memória!... Sei que se abrem totalmente nas conversas e às vezes até dizem disparates, que não vou aqui desvendar, nem sequer estamos aqui para isso e toda a gente sabe qual é a nossa missão!
Devo confessar que as conversas mais do nosso agrado vêm sempre da juventude, de alguma juventude, que vai buscar os sonhos que lhes são próprios, que os faz andar em frente, numa perspectiva de um dia encontrar a tal felicidade, de que todos falam, mas que bem poucos alcançam, e, que é provável ser conseguida por alguns daqueles que não resvalam por atalhos, depois de se inteirarem do caminho a percorrer, rumo ao objectivo que traçaram e que poderá ser na aldeia que os viu nascer, mas que pode passar ainda por só acontecer depois duma longa caminhada e bem distante, quem sabe, da sua linda e saudosa aldeia!... » ( Continua )

- Um abraço do tamanho do rio Arda!
Nota: Este post é uma cópia do blog PEdorido.com

terça-feira, 3 de agosto de 2010

Conversas entre Filho e Pai!... ( Continuação )

Ficamos pasmados com tantas memórias deste pequeno rio, mas sobretudo pela fiabilidade das suas afirmações ao usar exemplos típicos e próprios dos humanos, e, como era possível, ter tido uma evolução, que nós acreditávamos só possível na nossa espécie?!...
Achamos que o nosso interlocutor teria muito mais para nos contar e sugerimos que continuasse e o nosso velhinho rio não se fez rogado:

«-Contamos continuar por cá ainda uns bons milhões de anos - disse - mas nos últimos tempos começo a ser mais cauteloso nos meus palpites e até já comentei com o meu grande amigo rio Douro - que é meu pai! - um mundo de preocupações para o nosso lado, depois dos estrangulamentos a que nos sujeitaram em toda a bacia do rio maior e que afectaram todos os afluentes, onde estou incluído, sem apelo nem agravo!... O meu pai que é um rio experiente, ouviu-me atentamente, com uma calma que não era seu timbre, lá me foi dizendo, que há momentos na vida que temos de usar a inteligência que temos e a suplente, se for caso disso, porque melhores tempos virão, e, fez-me ver, que com estas barragens hidro-eléctricas pelo Douro acima, terá sido ele o mais castigado, mas, que muitos dias têm um milhão de anos e que nós os contemos, disse!... Tranquiliza-te e deixa de ser pessimista, que com os tempos as mudanças acontecem e sem ninguém contar, e, até aproveitou para citar aquela frase que atribuem ao Camões: "Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades"... O meu pai acha que os humanos são até inteligentes, mas que não raras vezes são uns convencidos e portadores de um orgulho que só os atraiçoa, e, lembrou-me, que vivem a sonhar, convencidos de que foram os primeiros a praticar actos de solidariedade... Puro engano o deles - diz o meu pai - porque foi graças à solidariedade entre o Sol, os mares e os rios, mas não só, que há mais de quatro mil milhões de anos atrás, foi possível iniciar uma longa caminhada que tornou possível chegarmos todos até aqui! Mas há mais, meu querido filho, a solidariedade que ainda hoje praticamos, não tem nada a ver com a dos humanos - disse - que se baseia na mesquinhez e na ganância, em que dão alguma coisinha, mas querendo receber muito mais em troca!...» ( Continua )
Nota: Cópia do post publicado em PEdorido.com

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Conversas entre Filho e Pai!...


É um rio velho, demasiado velhinho, com muitos milhões de anos, mas com uma memória capaz de "meter num bolso" a memória de qualquer elefante, de um qualquer continente, porque se os elefantes não são iguais nem em tamanho, possivelmente, terão outras diferenças genéticas e a memória faz parte da genética!
Ainda se recorda dos seus princípios, e, nem seria sequer um rio, que, só com as profundas e muito lentas transformações da crosta terrestre viria a ganhar tal estatuto! Assim que conseguiu ganhar o estatuto de rio, ficou deveras feliz, por pensar que teria valido a pena os longos e continuados esforços para abrir e dar continuidade a um caminho desde a nascente à foz a que acrescentaram os nomes de leito e de margens, não fossem ser usurpados por muitos outros seres que iriam aparecer por este planeta!... Ouçamos o nosso rio:
-«As lembranças dos primeiros tempos ainda cá moram quase intactas, de resto não foram tempos fáceis e naqueles tempos remotos não poderia ter ajudas de ninguém, estava tudo no início, tudo por fazer, e, o facilitismo, era coisa ainda desconhecida num planeta ainda jovem, quase deserto, repleto de mares em tudo quanto era sítio, e, só muito depois, muito mais tarde, começaram a formar-se os rios e hoje podemos garantir, que, a maior ajuda que tivemos veio do astro, que, naqueles tempos remotos, nem sabíamos que se chamava Sol, que, para o caso, também não tinha nenhuma importância!... Verdadeiramente, só fiquei a saber que se chamava assim, quando há muito pouco tempo, há uns milhares de anos atrás, alguns humanos que começaram a trabalhar as terras por estas paragens, sussuravam junto das margens uma troca de palavras difíceis de entender, mas a palavra Sol era dita e redita e como apontavam para o alto, nem foi custoso aperceber-me de que se referiam ao Sol e notava-se, vía-se até os suores intensos que escorriam dos seus corpos, quase nus, devido ao esforço com que trabalhavam as terras, mas também devido ao calor criador do muito amigo Sol de que falávamos... » ( Continua)

- NÃO BASTA GOSTAR DA NOSSA TERRA, É MELHOR DÁ-LA A CONHECER!

Nota: Cópia do post publicado no blog PEdorido.com