segunda-feira, 1 de março de 2010

RELEMBRAR o DOURO seus AFLUENTES e suas GENTES!

(CONTINUAÇÃO II )
Na outra margem do Douro, quase em frente a Pedorido, escondia-se a ribeira de Rio Mau, de menor dimensão, mas igualmente trabalhada a gosto por pequenos lavradores, que, procuravam tirar o melhor partido daquelas terras ribeirinhas e que se estendiam até ao sopé da serra da Boneca, contornando todo aquele sinuoso vale na companhia do pequeno e inseparável afluente rio Mau, aqui e ali com marcas de alguma violência de invernos passados, mas como que retraído, e, por vezes escondido, segue agora sem pressas, acabando por entregar duma forma mais suave as suas águas ao grande rio Douro no lugar da Foz!
Mas, se agora acompanhássemos as correntes velozes do Douro, íamo-nos deparar um nada mais abaixo com Melres e a sua ribeira, de boa dimensão, paralela ao rio e ao grande areal, desafogada e airosa, porque a serrania ali tivera a "sensatez" de se arrumar para zonas mais afastadas do Douro, como que a criar as boas condições naturais para o surgimento, milhões de anos mais tarde, daquela linda e plana localidade, coisa invulgar em todo o sinuoso vale que vínhamos seguindo rumo ao Atlântico...
Melres, também ela terra de lavradores, pescadores e mineiros, devido à grande proximidade das minas do Pejão em Germunde, mas onde a lavoura e a pesca no Douro tinham grande expressão, assim como o comércio tinha ali um certo destaque, já que uma vez por mês ocorria lá uma feira que mobilizava as gentes das terras vizinhas, de ambas as margens do rio Douro, e, as travessias de barco, naquela época, nunca foram problema... Depois uma menor distância para a Cidade Invicta fazia a diferença, e, aquela gente, tão ligada ao rio, tinha ainda a dupla vantagem com esta proximidade por terra àquela cidade do litoral nortenho!
Convém aqui relembrar, que, nos anos cinquenta, se trabalhava de segunda a sábado e que mais de noventa por cento das pessoas desta vasta zona do Douro se movimentava a pé, não só para o local de trabalho, mas também para as outras tarefas necessárias, como ir ao médico, à farmácia, à igreja,à feira, às compras na Cooperativa, etc.; curiosamente, passar duma margem do Douro para a outra, era na época, coisa fácil e até rotineira, bastava que houvesse motivo, devido às várias travessias em actividade em todas as localidades e onde o barqueiro de serviço podia muito bem ser uma mulher, e, isto, era válido para o dia, como para o início da noite!... No inverno e com as grandes cheias do Douro as coisas "mudavam de figura", e, aí, só quem tivesse necessidade continuava a fazê-lo, porque os barqueiros eram experimentados e nas suas mãos os pequenos Valboeiros tornavam-se leves e rápidos, ou era essa a sensação que ficava nas nossas mentes e depois não se podia faltar ao trabalho, ou ao que quer que fosse...
Todo este labor, levava forçosamente a que as pessoas se encontrassem diariamente na Carbonífera e duma forma regular na igreja, nas capelas e nas procissões, nos funerais, nas tabernas, nos bailaricos, na pesca, na feira, na cooperativa de consumo, nas festas, no futebol, nos rios e seus areais, nos campos e nos montes, no hospital das minas em Oliveira do Arda, e, até as bandas de música contribuiam com o seu despique em arraiais populares, para um novo tipo de encontro, capaz de despertar, por vezes, sentimentos de índole bairrista, mas, todas estas vivências com o decorrer dos anos, ajudavam a criar laços de profunda amizade entre as gentes de todo o Couto Mineiro e que ainda se vão mantendo bem vivas, não sendo raros os casos, em que outras amizades deram mesmo em casamento entre jovens de ambas as margens, e, tudo isto acontecia com muita frequência e jamais a separação natural provocada pelo rio Douro serviu de impedimento a grandes amores, quando tiveram que acontecer!...

FIM DA 2ª REMADA ( continua ))mmmmMm

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