quarta-feira, 26 de outubro de 2011

A LISTA DE SHINDLER E OS INOCENTES!...

Ontem tivemos um dia chuvoso, frio e triste... Para cúmulo os ventos agitaram o arvoredo com as suas fortes rajadas, e, se dúvidas houvesse, nota-se que o Outono/Inverno serão as novas estações e pelo que já deu para ver, teve início uma das suas missões para além deste tempo instável! Referimo-nos à tarefa de todos os anos, em que, dia após dia, vão-se desprendendo ou dando uma ajudinha para que as folhas e folhinhas das árvores e dos arbustos amarelecidas ou de outra côr mais berrante, dêem origem a um espectáculo, que uns humanos gostam muito e aceitam como natural, ao invés de outros, que dão mostras duma raiva acelerada, porque não vêem com bons olhos, que as folhas acabem por vir "sujar" as áreas em que se movimentam e que têm como suas... Enfim, os comportamentos diferem de pessoa para pessoa, como já vimos registando de há muitos anos a esta parte, não deixando de ser bizarro, esta coisa de embirrar com a própria Natureza!... Não poder andar pelas ruas, levou-me a optar pelo cinema e desta vez decidi-me a ver pela segunda vez "A Lista de Shindler", um filme que veio mostrar uma outra faceta no interior do regime nazi... Trata-se da cumplicidade de empresários, que, filiando-se no partido nazi, debaixo dessa capa protectora, fizeram fortunas colossais ao usufruirem de mão de obra escravizada, ao mesmo tempo que subornavam altas patentes nazis e conseguiam ainda outras benesses... Este Shindler, que seria de ascendência checa, viria a ter um duplo papel, conseguindo em diversos casos, evitar que o genocídio fosse ainda maior, ao evitar que um número considerável de judeus "acabasse" nas câmaras de gás e nos fornos crematórios... Não se trata propriamente de um inocente, mas as suas atitudes um tanto ambíguas, deixaram transparecer para o final um arrependimento sincero, que comoveria os próprios judeus... Já depois de terminado o conflito com a derrota nazi, Shindler continuaria a sua missão de empresário, sem grande sucesso, diga-se, e viria a falecer em 1974! Diz no filme, que os judeus continuam a passar pela sua campa em sinal de reconhecimento, mas há que ter algumas cautelas ou reservas em relação a estas biografias passadas para a tela, porque verdadeiramente inocentes foram todos aqueles que foram roubados à sua Liberdade e a seguir mortos, sem a menor contemplação pelo regime hitlariano de ocupação e independentemente de serem judeus, ciganos ou de qualquer outra origem ou credo!... Quanto aos demais, ninguém estava inocente!



sábado, 20 de agosto de 2011

INTERESSA É CAÇAR! SE O GATO É PRETO OU BRANCO NÃO INTERESSA!...

É indiferente caçar com um gato preto ou com um gato branco!... É um facto, que a cor não influencia o acto! Terá sido a partir da aplicação deste entendimento, que um conhecido dirigente chinês terá engendrado as suas tácticas, que viriam a impôr um novo rumo político ao seu país, depois de décadas e décadas de lutas internas, com avanços e recuos - mais recuos que avanços na óptica dos analistas - que dificultaram a escolha dum melhor caminho e das melhores soluções, de resto não podiam contar com as ajudas vindas do exterior, à espera e desejoso de aplaudir o insucesso dum novo sistema como aquele que se pretendia implantar na nova China!
Resumindo, sabe-se muito melhor hoje, que as novas medidas encontradas no plano interno por Deng Xiao Ping levaram a sociedade chinesa a desdobrar-se como pôde para conseguir outros padrões de vida e "caçando" das formas possíveis, pondo para tal a imaginação a inventar! O importante foi passar a produzir mais, e, reinventando, mesmo que fosse necessário alterar regras e pôr de lado os princípios rígidos que estiveram na base da Revolução Cultural que tanto eco alcançaram na juventude dos países ocidentais!

Seguiu-se um forte crescimento económico a partir do final dos anos oitenta e que teve continuidade mesmo depois da morte daquele líder chinês, ao mesmo tempo que uma boa parte dos países ocidentais conheceria pouco depois um retrocesso acentuado nas suas economias a começar pela economia norte americana, que devido ao despesismo bélico em que se tem vindo a meter, aliado a outros problemas de origem interna, é já o país mais devedor à face do planeta! Ao mesmo tempo, alguns dos países da zona euro como Portugal, chegaram a uma posição pouca cómoda em especial devido ao forte desemprego e pela concorrência desleal dos países com economias fortes, como a chinesa e outras da zona asiática... Como foi possível chegar aqui, é a pergunta que todos fazem, convencidos que há responsáveis, que, numa altura destas nem aparecem, e, se aparecem, será para dizer o que mais lhes convém... A partir do início da década de noventa, muitos empresários ocidentais levaram as suas empresas para a zona asiática, sobretudo para a China na mira dos lucros fáceis, a galinha dos ovos de ouro, que era o que estava a dar!... Era longe mas compensava, porque os salários eram muito baixos e as regras de trabalho que existiam nos países ocidentais, como férias pagas, 13º mês, direito à saúde e direito à reforma, ali nem sequer existiam... Foi bom para a economia chinesa, naturalmente, também foi bom para alguns milhões de chineses que enriqueceram e nem foi bom nem foi mau para muitos milhões de chineses, que, se deixaram de passar fome durante vários anos, vêem-se agora novamente sem emprego e com a fome a bater-lhes de novo à porta, porque milhares e milhares de fábricas fecharam, assim que os empresários ocidentais viraram as costas assim que a recessão falou mais alto e deu lugar às falências...

Inventaram o nome pomposo de Globalização para este período, que mais não é que a face negra de um capitalismo selvagem, porque retrocedeu no tempo e numa altura em que a tecnologia é de facto muito avançada e só uma íncorrecta gestão do sistema poderá explicar... Entenderam andar aos zigue-zagues, convencidos de que a seguir à queda do sistema soviético no final da década de oitenta, ficariam sòzinhos e vitoriosos para decidir a seu bel-prazer e meter na ordem e pela força quem ousasse discordar!... Afinal, num curto espaço de tempo, fartaram-se de fazer para desfazer de seguida, tomar medidas mais erradas que certas e até acabaram por cair na cilada que Deng Xiao Ping havia montado apenas e só para a China, com o único intuito de conseguir o básico, que seria dar de comer a mais de um bilião de chineses, porque na época referenciada havia chineses a morrer à fome!

Seria assim tão difícil de perceber, que, ao colaborar com aquela prática chinesa, iriam apenas e só ajudar e dar força a um sistema já desacreditado internacionalmente, por negar há largos anos os elementares Direitos do Homem ao povo chinês?!... De facto, só a ganância cairia numa armadilha destas! (Continua)

terça-feira, 16 de agosto de 2011

O QUE NOS INQUIETA NO RIO MAU DE HOJE!...

Andei a adiar, mas algum dia lá teria de ser!... Podia não tomar a iniciativa, deixar o pequeno barco rumar para onde corresse o caudal de suas águas doces - por enquanto ainda doces - e os ventos mandassem, mas esse comodismo, esse relaxe, não casam lá muito bem com a minha maneira de ser e de estar nesta vida, que foi a única que conheci, por não ter tido outra...
Mas vamos ao que importa: «... É já um hábito, que se tornou comum em muitos riomauenses, desabafar com justificada alegria - nota-se e vê-se nos olhares - que Rio Mau foi no passado e é ainda hoje um Alfobre de Talentos!... Curiosamente, logo de seguida, ficam-se por aí, como se o dever fosse cumprido na íntegra e como se não houvesse mais nada a fazer... Numa sociedade aberta e plural como é aquela em que vivemos, isso não chega e é mesmo insuficiente ficando àquem, muito àquem dos mínimos aceitáveis... Nestas coisas não há regras bem definidas, mas somos levados a pensar, que não sendo por mal que estas coisas acontecem, tem como resultado um desleixo cultural que causa calafrios só de pensar nos efeitos negativos que resultarão para o futuro cultural destas gentes, que há algumas centenas de anos por aqui se foram instalando, por entenderem que seria no sopé desta bendita serra da Boneca que seriam capazes de criar as condições necessárias à continuidade das suas vidas e que valeria a pena todos os sacrifícios!...

Hoje, todos sabemos, que, sem facilidades, Rio Mau se foi transformando ao longo dos tempos e que suplantou mesmo freguesias à sua volta com algum gabarito e que reparavam na pequenez física de Rio Mau com algum desdém... Estas coisas acontecem com toda a normalidade sem ninguém as assumir, serão próprias de bairrismos, que, se não forem exacerbados, não trazem qualquer mal ao mundo e até ajudarão a adquirir um certo brio colectivo, que, de outra forma, nem seria fácil de arranjar!

Voltando ao tema, que reputo de transcendente importância, para vincular a opinião de que o reconhecimento público das figuras riomauenses, que se destacaram na cultura e no desporto no passado ainda recente, merece outra visibilidade, que não esta que tem sido dada, que me parece um tanto tímida e insuficiente... Sem ofensa e porque gosto de ser justo, parece-me, que na nossa linda e próspera aldeia se esqueceram ou puseram de lado os padrões de grandeza de outrora para se assimilar, ou se nivelar, pelos valores de grandeza de aldeias vizinhas que vigoraram no passado e que conhecemos melhor!...

A minha grande preocupação - poderá não ser só minha - reside no facto de perceber, que, este contágio negativo, irá passar para a actual e futura gerações, embora tenhamos também a certeza, de que aconteça o que acontecer, nada nem ninguém, poderá impedir Rio Mau no futuro de continuar a ser um Alfobre de Talentos!»

Nota: Este texto é uma cópia do que publicamos no Mural de Rio Mau em Movimento.

quinta-feira, 21 de julho de 2011

"OS ESPECIALISTAS"!

A informação falada e escrita ocupou sempre um lugar de destaque e que foi ganhando mais visibilidade à medida que as sociedades foram evoluindo no conhecimento e na forma de comunicar! Neste campo a evolução chegou a níveis, que, há vinte, trinta anos atrás não era imaginável... Se acrescentarmos, que nos próximos dois anos vamos ter acesso a um telemóvel, que mais parece uma pequena folha de papel, que só consumirá energia quando for utilizado e que até vamos poder guardar no interior de um livro, só vem confirmar que nesta área as invenções estão a suceder a um ritmo louco...
Ao mesmo tempo o outro mundo dos humanos não deixa de surpreender e não querendo ficar para trás, acomodado ao tradicional, não só resiste, como vai inventando umas novas formas de chamar a si as atenções das novas sociedades, ao atraí-las para as novas formas de informar! Assim, têm vindo a descobrir, que é de todo aconselhável dar resposta aos constantes desafios que surgem de todos os lados e a todas as horas... Talvez por isso, têm aparecido espalhados pelos vários orgãos da comunicação social uma camada muito razoável de comentadores, de ambos os sexos e a quem já outros apelidaram de "ESPECIALISTAS", uma vez que é nessa qualidade que abordam qualquer tema que lhes é colocado...Vão-se repartindo pelos vários canais televisivos durante os dias de semana, e, é quase certo, que terão copiado pelas televisões de outros países, porque, regra geral, é isso que acontece e, não é de crer, que surgisse desta vez a boa nova!


Entretanto, no meio de tantas análises e de "tanto saber", é muito estranho que nunca tivessem previsto alguns dos factos que ocorreram cá dentro de portas e também lá fora:


a) A grave crise do sistema que começara nos Estados Unidos (subprime) e que de seguida afectaria a Islândia, que era considerada uma economia até muito estável e um pequeno oásis, lá bem no norte europeu...


b) As recentes convulsões nos diversos países do Norte de África com os seus povos a pretender afastar ditaduras com mais de trinta anos e que pareciam estáveis...


c) A grave crise económica e financeira que se abateu sobre o nosso país a partir de 2008 e que foi responsável por um record histórico no desemprego de que não havia memória!...


Não dá para perceber como estes "especialistas" com chorudos vencimentos e que fazem questão de ter a resposta que mais interessa espalhar para a opinião pública, se vêem ultrapassados e desacreditados assim que os factos se tornam indesmentíveis! Não farão parte de um jogo em que o essencial será previamente acertado?!...

quarta-feira, 6 de julho de 2011

A Bela Cidade da Boneca em 2063!

Este empreendimento mineiro na serra da Boneca conta com um efectivo de trabalhadores que oscila entre os trezentos e os quatrocentos trabalhadores... Esta média de trabalhadores directos tem vindo a manter-se desde 2016 e esta estabilidade teve como consequência um crescimento económico e populacional, que a região nunca conhecera no passado, e, sabe-se, que foram criadas à sua volta, outras pequenas empresas na área dos transportes, metalurgia, restauração e serviços!
Por falarmos na região, há aqui um dado curioso, que convém não esquecer e que é muito comentado pelas populações ribeirinhas... No século passado, as minas de carvão do Pejão, eram o grande empregador de grande parte da mão de obra das populações da margem esquerda e direita do rio Douro; esta realidade fazia com que a mão de obra oriunda de Melres, Rio Mau, Sebolido e de outros lugares, tivesse de atravessar diariamente o rio Douro. Após o fecho daquela empresa mineira em 1994 e com a abertura das minas na Boneca em 2012, passou uma boa porção de trabalhadores de Pedorido, Oliveira do Arda, Folgoso e Raiva a ter de atravessar o mesmo rio, porque a situação se invertera... Quem havia de dizer!

Na base da serra da Boneca as transformações ao nível do urbanismo foram tomando uma forma dinâmica, que já vinha de trás, quando em 2012 se fundiram as duas freguesias numa só, para dar cumprimento ao novo decreto, que apontava para a extinção do número de freguesias. Nessa altura a nova freguesia da Boneca foi consensual, por corresponder a uma realidade visível no terreno, já que se tornara muito difícil distinguir, onde terminava exactamente Rio Mau e começava Sebolido... E a serra apresentava-se como uma solução que vinha unir e não o contrário!

Era inevitável, que a nova e grande freguesia da Boneca iria sofrer um grande impulso e crescer para o único sítio possível, entre as proximidades do pequeno rio Mau e o lugar de Moreira, um pouco afastado para oeste e pertença já do concelho de Gondomar! O imenso e ordenado casario que em 2028 era já ali bem visível, era fruto da solidez que a empresa mineira em boa hora viera proporcionar a esta boa gente do Baixo Douro!

terça-feira, 5 de julho de 2011

A BELA CIDADE DO DOURO EM 2063! (4ª Parte)

Este projecto mineiro na serra da Boneca para ser rentável, previu logo à partida um conjunto de situações, que seriam aceites pelas partes envolventes e que pouco ou nada tinham a ver com outros projectos mineiros conhecidos e de que restam ainda algumas memórias... Desde logo, porque os processos de trabalho não seriam os mesmos que foram utilizados nesses tempos, devido às tecnologias introduzidas e que possibilitarim a introdução de máquinas sofisticadas, com capacidade para romper nas galerias sem ter que recorrer aos ancestrais processos do dinamite, que tinham inconvenientes vários, sendo de destacar um dos principais e que dava origem à Silicose, a doença mais grave neste género de indústria, que derivava da falta de boas práticas de segurança e que foi responsável pela morte prematura de milhares de mineiros no século passado!...
Isto significava também uma maior produtividade, já que era possível, aplicar nas várias frentes outras tantas máquinas, que trabalhando de forma autónoma, durante horas seguidas, e, que, só paravam, para que os operadores tomassem as suas refeições, trocassem de turno, ou ainda para as necessárias revisões às máquinas perfuradoras e obrigatoriamente às pastilhas de corte.

As velocidades de progressão destas máquinas circulares eram feitas de acordo com a dureza das rochas e dos minérios a elas associados, mas eram manobradas por operários especializados, quase todos portugueses, mas também de outras nacionalidades, europeia e sobretudo asiática, confirmando desta forma a tão discutida e apregoada globalização!...

Convém referir, que todo o pessoal contratado e com ligações à produção, trabalhava no sistema de laboração contínua, uma nova forma na indústria extractiva, porque outro sistema não seria sequer aconselhável, uma vez que quase toda o minério extraído seguia por barco com capacidades que rondavam as setenta mil toneladas e que aguardavam algumas semanas à carga no porto de Leixões, à espera que barcos de menor calado completassem a sua carga, numa tarefa de vai-vem permanente entre a Foz do rio Mau e o maior porto artificial do norte. Esta tarefa fazia com que três barcos de igual capacidade estivessem destacados para esta tarefa marítima entre o nosso país e a República Popular da China... O contrato também previa, que aqueles cenários degradantes de entulheiras, tão comuns junto das explorações mineiras não tivessem lugar neste empreendimento!... Todos estes desperdícios eram aplicados nos mais diversos projectos, desde estradas, pontes, edifícios, obras de defesa da costa marítima e em outros projectos similares. Estas rochas já trituradas, saíam para o exterior das minas através dum segundo Poço Mestre, para não colidir com a produção de minério propriamente dita, que saía pelo Poço Mestre de maior visibilidade e interesse, por ser dali que saía o minério bem mais valioso! (CONTINUA)



segunda-feira, 20 de junho de 2011

A BELA CIDADE DO DOURO EM 2063! (3ª Parte)

Este género de empresas mineiras requer sempre aqueles grandes cuidados, tendo em vista as questões de segurança e ainda todo o tipo de procedimentos, para que os terrenos envolventes e os cursos de água não sejam contaminados pelas águas residuais, que acabam por ir parar aos rios e invariavemente aos mares, que são o último refúgio das malfeitorias "cozinhadas" pelos humanos... Daí, que no século passado, ainda tão recente, vamos deparar com tão maus exemplos de que só tiramos o "benefício" único, mas, já agora, proveitoso, de não repetirmos os mesmos disparates relativamente ao ambiente!... Chama-se a isto, aprender com os erros, ao mesmo tempo que no terreno eram aplicadas as normas da Comunidade Europeia, bem mais seguras que as lusitanas...
A Administração chinesa entendeu, desde o primeiro dia, que assim é que tinha de ser e todos se congratularam com as primeiras medidas tomadas pela fiscalização mineira que superintendia neste projecto!... O desmantelamento do aterro sanitário foi a primeira acção, ainda o ano de 2012 não tinha chegado ao fim e esse seria o primeiro benefício a ser festejado pelos habitantes de Rio Mau, e, mesmo os meios de comunicação social, incluindo as televisões, viraram para aqui as suas câmaras e holofotes, coisa nunca vista pela pacata Boneca... Mas, os ambientalistas eram aqueles que mais "ruído" transmitiam, por considerarem uma vitória para a qual tinham contribuído como mais ninguém!... Enfim, "presunção e água benta, cada um toma a que quer"... De seguida, algumas das torres Eólicas seriam desviadas, não por serem poluentes, nada disso, mas porque ocupavam terrenos da companhia mineira e houve necessidade em separar os dois projectos, por forma a evitar futuras quezílias.

Na época, causou algum espanto e era tema das conversas em ambas as margens do Douro o facto de serem os chineses a pôr mãos à obra neste empreendimento mineiro da Boneca, porque associavam os chineses mais às questôes ligadas aos têxteis e lanifícios, que era a prática mais corrente e mais conhecida deste povo oriental, e, era suposto, que, nestes assuntos da indústria teria mais cabimento ver "meterem-se" os europeus, designadamente os belgas, ingleses, alemães ou franceses, que, habitualmente, lideraram com algum sucesso, este tipo de negócio por estas bandas da Europa!... (Continua)

quarta-feira, 15 de junho de 2011

A BELA CIDADE DO DOURO EM 2063! (2 ª Parte)

As pesquisas e consequentes análises em vários pontos da Boneca teriam durado cerca de dezoito meses, ou seja, no final de 2012 a equipa técnica chinesa - que tinha tido a preciosa colaboração de operários portugueses já especializados em serviços de pesquisa mineira - havia já adquirido um conjunto de informações, que garantiam um sucesso para uma futura exploração, nunca inferior a cinquenta anos... Isto, porque o filão de minério assim o determinava, embora os novos métodos de trabalho na rocha fossem substancialmente diferentes daqueles praticados nas minas deste país durante o século passado.
Entretanto, havia uma surpresa que não teria escapado nas análises laboratoriais!... Para lá dos minérios já constados, surgia em percentagens mínimas um outro minério, muito raro, e, que teria uma dureza, quase equivalente ao diamante e bastante superior ao volfrâmio! Soube-se, uns anos mais tarde, que a existência deste raro e precioso minério, havia determinado a decisão final dos chineses por estas minas, porque necessitavam de o incorporar em novos processos tecnológicos, que nem sequer tinham começado a desenvolver-se no Ocidente e se o não fizessem, corriam o risco de ver um outro país vir a apossar-se duma matéria prima de inquestionável valor!... Enfim, mistérios duma nova China, que ainda há algumas décadas atrás se debatia com sérios problemas internos, e, que, na época, procurou encontrar possíveis saídas, através da implementação de uma Revoluçã Cultural de que não iriam resultar as perspectivas esperadas, e, que, no final, iria deixar brechas e divisões profundas entre os principais dirigentes chineses daquela época! (Continua)

terça-feira, 7 de junho de 2011

A Bela Cidade do Douro em 2063! (1ª Parte)

Atingimos o ano de 2063! Há pouco mais de cem anos, não houve capacidades, nem sequer as engenhosas, para prever para esta margem do rio Douro um volte-face, que viesse provocar as profundas alterações necessárias e capazes de tornar o pequeno lugar de Rio Mau nesta pequena cidade, que, agora se chama Boneca do Douro, e, que, já terá ultrapassado os cinquenta mil habitantes!... Esta projecção, que lhe advém do facto de se ter tornado num dos principais pólos industriais e mineiros do norte e com reflexos na economia do país é uma verdadeira história de sucesso, que, não é assim tão velha quanto isso, mas que se desenvolve num ritmo acelerado, depois de décadas de alguma estagnação, aliás, coincidente com o fraco ritmo a que o país se sujeitava...
O nome da aldeia ainda existe e ficará para a história destas gentes, assim como Sebolido não desapareceu pelo mesmo motivo, porque a junção das duas freguesias resultaria na actual cidade que se chama "Boneca do Douro" e ficaria a dever-se à necessidade de ir ao encontro da nova legislatura, que apontou para uma redução do número de freguesias no ano de 2012, quando o país passava por mais uma grave crise económica e financeira.
O que se passou de concreto e que esteve na base desta soberba transformação?!
É costume dizer-se que não há milagres gratuitos nem espontâneos, e, que, só acontecem, quando as mentes se conjugam no mesmo sentido, que, ao que parece, terá sido o caso...
Passemos então à verdadeira história:
«- As redes sociais suportadas pela Net divulgavam e uniam mesmo as pessoas por todo o planeta à volta dos mais variados temas, e, há quem afirme, que teriam estado na base da queda de governos e até de regimes, e, apontam mesmo alguns dos países do norte de África e do Médio Oriente, tudo isto enquanto decorria o ano de 2011... E é precisamente aqui, com um cenário destes no plano internacional que tudo terá começado, quando três riomauenses decidiram trocar algumas informações e ideias através da Net. Recordavam e relembravam uma hipotética exploração mineira na serra da Boneca, que, apesar de não ter ido avante, ainda nos alvores do século XX, teria deixado algumas certezas de ali ter existido sinais claros de minérios como o ouro, a prata, o cobre, o chumbo, o estanho e o zinco, embora não fossem conhecidas as proporções, que, são sempre uma boa base para uma possível exploração.
Por essas alturas a economia chinesa começava a dar alguns sinais de abrandamento, mas estavam atentos aos sinais vindos do exterior, em especial da Europa, e, ao descodificar a troca de mensagens dos riomauenses, admitiram poder estar perante um caso de real interesse para os seus propósitos políticos e industriais...
Por estas paragens do Douro, causou um certo assombro ver nos meses que se seguiram, um grupo de técnicos chineses, devidamente autorizados, instalarem-se nas proximidades da linda serra da Boneca com o intuito de tirar a limpo o que haviam descodificado na Net... Vinham bem equipados para a missão e dispostos a fazer o que fosse necessário para que no final, não restassem quaisquer dúvidas! (Continua)


segunda-feira, 30 de maio de 2011

RELEMBRAR AS AVES É VOLTAR AO PASSADO!... (2ª Parte) ...

Não deixa de ter a sua graça!... Enquanto uma parte dos humanos não faz os trabalhos de casa, inventando algumas desculpas, que, nem aos próprios convencem, outros seres continuam fiéis às tarefas que sabem ter de executar. É o caso deste casal de melros, já adultos, com pelo menos um ano de idade, já o mês de Maio se aproxima do seu termo e que lutam com a determinação que herdaram para levar adiante o compromisso sério de fazer o seu ninho, colocar lá os ovos possíveis e duma forma continuada, passar ali uma boa parte do dia e da noite, durante cerca de duas semanas, para que o calor "emprestado" resulte na continuação da espécie!... Tudo tão simples, afinal, assim à primeira vista, dirão os mesmos humanos, que tantas vezes complicam o que parece fácil, porque se tornaram hipócritas e egoístas em demasia, ao ponto de já há muito passarem a fazer parte do problema, que uma outra parte da sociedade luta por resolver seriamente!...
Voltando ainda ao mundo fabuloso das aves, onde o nosso casal de melros se insere, para constatar os diálogos que temos vindo a observar entre eles, por todo este pinhal de proximidade, mal o dia começa a despertar e que perdura até ao final do dia, assim que a noite começa a dar sinais de querer instalar-se... São diálogos que se mantêm durante manhãs e tardes inteiras, separados por dezenas de metros em que as posições vão mudando consoante as necessidades, mas, curiosamente, todos se entendem, apesar dos diferentes chilreios, próprios dos grupos a que pertencem. Ou seja, aquilo que para nós humanos parece uma grande algazarra e no fundo uma grande confusão, não será para esta passarada, que, decifra correctamente a mensagem do interlocutor, para, logo de seguida, iniciar uma resposta pronta, que, por vezes, necessitará de uma troca de posição na referida árvore de acolhimento... Mas, isso é coisa simples, para quem tem tanto prazer e facilidade em voar, rodeado que está de um razoável e diversificado arvoredo... De resto, se estivermos com alguma atenção, notaremos, que, cada um no seu grupo, tem uma linguagem própria e que em nada se confunde com os outros grupos!... Basta comparar o chilrear de uma cotovia, que em nada se compara ao canário e muito menos ao melro! Ao primeiro impacto, parece-nos tudo muito simples neste mundo das aves, mas será mesmo assim?!... Nota-se, também, que existe uma espécie de "luta de classes" entre grupos, com as aves de rapina no topo duma hierarquia que a todos submete sem apelo nem agravo! Pode-se argumentar, que as aves são em tudo muito primitivas, que não se vê ali nenhuma evolução... É verdade que os humanos do ponto de vista científico têm enorme facilidade de progressão e a Net é um bom exemplo disso... Só, que, logo de seguida e quando menos se espera, tornam-se em irresponsáveis quase perfeitos, forjam ardilosamente escaramuças e desavenças graves, que podem pôr em causa equilíbrios fundamentais para uma vivência estável em todo o planeta!... E aqui, a grande e fabulosa descoberta da Net de nada irá servir para ajudar a resolver os litígios, porque já nem o diálogo sobrevive...
Toda esta dialéctica não cabe nesta missão sublime a que se propôs este jovem casal de melros, que, indiferente a todas as polémicas entre humanos, trabalha com afinco para a forte possibilidade de trazer para a vida do grupo mais três indivíduos, que é o número actual de ovos que pude visionar a alguma distância do ninho e que a foto documenta! Resta aguardar com toda a tranquilidade, mas uma coisa já é certa:-« Este meu jardim, já ganhou uma nova motivação para lá das flores, e, não negamos, que, ficamos até sensibilizados por merecer a confiança duma ave, que, no fundo, confiou em nós, sem sequer nos conhecer!...»


sexta-feira, 27 de maio de 2011

RELEMBRAR AS AVES É VOLTAR AO PASSADO!... (1ª Parte) ...

A Primavera caminha a passos largos para o fim!... Não é novidade para os humanos, mas as aves também não se deixam enganar! Se isso acontecesse seria grave, pensamos nós, mas as aves, vê-se que têm um sentido muito realista, porque farão leituras adequadas e que acabam por influenciar os seus comportamentos... A começar pelas temperaturas, pelas épocas das chuvas, pela grandeza dos dia e das noites, que influenciam e de que maneira os seus voos sazonais, quando se trata de aves migratórias.
Continuo a morar na província, mas agora a cerca de quatro quilómetros do mar Atlântico, mas aqui só as gaivotas são "rainhas" e não têm complexos de vir a ocupar os areais e outras paragens, caso o mau tempo e a forte ondulação se instalem pelo seu habitat, para ali regressarem assim que as condições o permitam... Os homens com uma vida dedicada ao mar, dizem, amiudadas vezes, "Gaivotas em Terra!..." para classificar, precisamente, essa característica de uma ave que tão bem se adaptou a viver do mar e para o mar, mas, nas condições mais adversas também não arriscam a ficar por lá!... Não o farão pelo sentido da responsabilidade, mas pela sobrevivência, que trocado em miúdos vai dar no mesmo!
Mas, hoje gostava de vos falar duma outra ave, que nada quer com o mar e todos conhecemos, que é o melro! Diz-se, que é uma ave de jardim, mas sobrevivia por todo o nosso país rural, aliás, é daí que o conhecemos melhor... Acompanhava muito de perto os trabalhos de lavoura, ali com o rio Douro bem próximo, quando o nosso país era essencialmente rural, com os seus voos rasantes na proximidade de ribeiros, regatos e represas, ao mesmo tempo que não dispensava os seus cantares estridentes de um alerta avisador e denunciador, que ficará connosco para os restos das nossas vidas...
Nessa altura não imaginaríamos sequer que passados sessenta anos viéssemos a reencontrar essa mesma ave, num outro cenário, mantendo as mesmas características, os mesmos jeitos, a mesma forma de estar e a mesma adaptabilidade, agora também nos jardins e num pinhal com alguma proximidade... Há, todavia, uma pequena grande diferença, que não posso deixar de vos dar a conhecer:- Nos últimos anos, talvez, a minha presença seja mais notada por estas aves, que, entretanto, começaram por se aproximar um pouco mais do meu florido jardim... Começaram por fazer o ninho na pequena árvore do fundo do jardim e este ano voltaram a nidificar, mas na árvore mais próxima e há poucos dias, lembraram-se de fazer mais um ninho, mas desta vez a cerca de dois metros do solo, bem agarrado aos troncos de uma glicínia que prospera encostada à casa, bem dentro do nosso jardim!...
Claro, que me passam muitas coisas pela cabeça, é muito normal que tal aconteça... Desde recordar os anos da minha infância, numa volta ao passado, onde se perfilam em catadupa um vasto rol de memórias, em que, por vezes, entram também os melros, não estes, que agora se lembraram do meu jardim, mas, seguramente, outros, que tinham o mesmo aspecto e o mesmo desembaraço dos que lhes sucederam! (CONTINUA)

sábado, 19 de março de 2011

"AH, MEU LUÍS DA CARVALHEIRA!..."

Quando tinha os meus seis, sete anos e morava em Rio Mau, fixei uma das figuras mais típicas do pequeno lugar! Lembro-me que os adultos lhe chamavam Luís da Carvalheira, morava numa casinha humilde ali próximo da Pia da Casca com uma senhora mais idosa e que seria a sua mãe!... Era um local de passagem quase obrigatória, porque dava acesso à velha Capela e respectivo cemitério, e, o Outeiro, onde ficava a casa dos meus pais, era ali bem perto...
Sabíamos, que este homem simples e que aparentava ter mais de quarenta anos, era operário em Germunde e o seu modo de vestir, ao primeiro impacto, dava a perceber que teria as maiores dificuldades de sobrevivência, se tivéssemos em conta a forma andrajosa de toda a sua roupa!... Era um homem cordato, nunca lhe conheci qualquer desacato, mas, ficava-se com a ideia, que seria a pessoa mais pobrezinha de toda a aldeia, se fosse tido em conta a quantidade de remendos nas calças e no casaco que fazia questão em ostentar durante todos os dias do ano!... Tive ocasião de "espreitar" e ver que os remendos sobre remendos eram obra sua, de resto, era impossível, a quem quer que fosse, fazer pior trabalho!... Andei todo este tempo convencido, que toda a lide da casa passava por este homem, o que me leva a pensar, que a sua mãe teria problemas sérios, mas em rigor nunca poderei afirmá-lo... A forma de vestir era única em toda a aldeia, e, por ser tão bizarra, até aos miúdos da minha idade não passava despercebido, mas honra lhe seja feita, porque o nosso Luís da Carvalheira nunca deu mostras de quaisquer complexos de inferioridade, cumprimentava e falava com toda a gente, embora se soubesse que uma boa parte dos adultos, em especial as mulheres da nossa aldeia fizessem questão de pegar no seu mau aspecto exterior, como contraponto para casos tão diversos e que nem sequer tinham semelhança! Sobretudo as mães, sempre que "ralhavam" com os filhos, era certo e sabido que iam rebuscar a frase já crónica:
«- Ah, meu Luís da Carvalheira!...»
Na década de cinquenta, um pouco mais crescido e já a morar em Pedorido, na outra margem do Douro, continuei a ter a oportunidade de ver o Luís da Carvalheira a caminho de Germunde, ou seguindo em direcção oposta a caminho de Rio Mau e da sua casinha, agora com mais idade, mas rigorosamente fiel à sua roupa remendada e que ainda parecia ser a mesma dos anos quarenta da minha infância...

domingo, 20 de fevereiro de 2011

AINDA SOBRE OS DESASTRES DE BHOPAL E CHERNOBIL! (2ª Parte)

Temos vindo a alertar para os desastres ambientais em Bhopal e em Chernobil na década de oitenta provocados pela irresponsabilidade humanas!... Na altura foi muito comentado, lembro-me, mas com o passar dos anos foi esbatendo e já nem se fala, nem se comenta... Faz parte da nossa cultura, é a nossa maneira de estar e depois fica lá longe, não nos tocou pela porta e não damos ao caso a importância que deverá ter! As consequências, essas ainda irão sobrar por muitos e muitos anos até que o equilíbrio volte ao planeta nas áreas afectadas, mas os humanos têm de ser avisados que muito de positivo há ainda a fazer e que se fez ainda muito pouco, sob pena de que novos e graves desastres dali possam advir, porque em Chernobil, por exemplo, colocaram à pressa uma campânula que isolou por algum tempo todo aquele descontrole radioactivo, impedindo que continuasse a soltar-se para o exterior... Só que os materiais utilizados ao fim de vinte, trinta anos irão ceder ao desgaste e as fugas darão lugar à libertação de novas e perigosíssimas quantidades de radioactividade que irão não só afectar toda a região envolvente, mas também seguir para outros pontos do planeta e que poderão até nem ser os mesmos de 1986!... É preciso dar a saber que vai ser preciso um milhar de anos ou muito próximo disso, para que os níveis radioactivos baixem para valores compatíveis e há que investir naquele local a melhor tecnologia e os melhores materiais porque as improvisações e o "deixa andar" dão sempre em surpresas desagradáveis.
Em Bhopal o cenário é diferente mas não é melhor... Discute-se mais e até já se fizeram manifestações, porque é bem mais fácil acusar nos tribunais e na via pública a multinacional americana Union Carbide e o seu dirigente máximo, mas, o que já não é aceitável, é que toda a área da extinta fábrica continue contaminada há mais de vinte anos! Várias organizações e moradores da região exigem a limpeza do local e afirmam que dentro da fábrica há uma grande quantidade de produtos químicos acumulados e sem protecção, que atingem o solo e contaminam as águas.
Recentemente a BBC publicou uma pesquisa que indicava que a água em Bhopal tem um nível de contaminação 500 vezes mais alto que o limite estabelecido pela Organização Mundial de Saúde (OMS). Não é necessária uma grande inteligência para perceber que milhares de indianos pobres na região de Bhopal estarão a ingerir esta água imprópria para consumo e que conterá um variado leque de substâncias perigosas não só para a saúde pública, mas que afectará toda a biodiversidade naquela região do centro da India.
Já passaram mais de vinte e cinco anos sobre estas duas tragédias e pelo que sabemos pouco de seguro foi levado adiante. Uma vida de trabalho e alguma experiência na indústria química, ensinou-me, que nestas questões não pode haver remendos nem falsas soluções, porque pode sair muito caro e o pormenor de que é muito longe e não nos toca, além de ser uma atitude egoísta é também irresponsável e perigosa! O ditado popular "do longe se faz perto...", tem aqui total cabimento, porque as variações das correntes atmosféricas levam a contaminação das nuvens radioactivas para zonas bem afastadas do local de origem, que no caso presente foi Chernobil.
Deu para entender?! É que está tudo em aberto!... (CONTINUA)


sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Relembrar os Desastres de Bhopal e Chernobil! (1ª Parte)


Quando pensamos nas questões ambientais, dois dos maiores acidentes ou desastres acodem de imediato à nossa memória: Bhopal na India e Chernobil na Ucrânia.
Curiosamente estávamos em meados da década de oitenta e ligado a uma empresa química norte americana, e, talvez por isso, seria a partir dali que me comecei a interessar mais pelo que se passava por cá e também lá por fora...
Pareceu-me, que a partir de Bhopal em 1984, começou a haver outras preocupações e cuidados na indústria química e não seria caso para menos, porque embora não haja dados estatísticos rigorosos, crê-se, que, devido à libertação de cerca de 40 toneladas de gás tóxico, aproximadamente 2 mil e 500 pessoas morreram nos instantes seguintes ao acidente e mais 8 mil morreram nos três primeiros dias após a explosão. Actualmente, pelo menos morre uma pessoa por dia devido a doenças relacionadas com a exposição às substâncias tóxicas e cerca de 150 mil possuem doenças crónicas e necessitam de assistência médica.
A fábrica química da Union Carbide em Bhopal permanece abandonada desde a explosão tóxica, mas os resíduos perigosos e materiais contaminados ainda estão espalhados pela área, contaminando o solo e as águas subterrâneas, dentro e no perímetro da sua antiga fábrica.
Tinham passado mais de dois anos e desta vez tinha lugar em Chernobil na Ucrânia o pior desastre nuclear de que há memória! O acidente produziu uma nuvem radioactiva que atingiu toda a URSS, Europa Oriental, Reino Unido e Escandinávia. Grandes áreas foram contaminadas principalmente na Ucrânia e na Bielorrússia, tendo levado à evacuação de cerca de 200 mil pessoas. A radioactividade espalhou-se por aqueles países, devido às condições atmosféricas, sempre variáveis, acabando por afectar a vida de regiões a milhares de quilómetros de distância.
Também aqui é extremamente difícil informar a quantidade exacta de pessoas que morreram devido ao acidente, mas em 2005 a ONU divulgou um relatório que atribuiu 56 mortes e uma estimativa de cerca de 4 mil pessoas, que, possivelmente, morreriam no futuro por doenças relacionadas com os malefícios das elevadas doses de radioactividade.
Por último, aparecem destacados nos inquéritos alguns dados que teriam estado na origem do acidente e que nos fazem arrepiar, como a pouca instrução dada aos operadores, defeitos nos reactores, a falta de comunicação correcta entre os escritórios de segurança e os operadores, além de terem desligado os aparelhos de segurança dos reactores, atitude expressamente proibida.
Finalmente, há cerca de dez anos, após várias negociações internacionais com o governo da Ucrânia, conseguiu-se desactivar esta ultrapassada central nuclear cujos malefícios estão longe de ser avaliados.
Se foi péssimo e desagradável o que aqui acabamos por descrever, que possa contribuir para que repetições destas não voltem a suceder, porque a vida na Terra dispensa bem cenas e atitudes irresponsáveis de gente, que, terá de perceber, que é possível ter lucros sem ter que pôr em causa os equilíbrios ambientais, que, naturalmente, já existiam e que devem continuar!

(CONTINUA)

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

QUANDO OS AVISOS "CAIEM EM SACO ROTO"...


Se guardo recordações ou memórias, fico a pensar que aos outros acontecerá coisa idêntica, e, acontecerá, com certeza, que as boas e más recordações ficaram a morar no mesmo patamar de um cérebro que se limita a fazer unicamente o que lhe compete, sendo certo que nos dá muito mais prazer relembrar aquilo em que nos saímos melhor, preferindo até, que as piores recordações nem existissem, ou, na pior das hipóteses, fossem ocupar uma zona mais cinzenta do nosso cérebro, uma espécie de penumbra, já mal iluminada, onde o esquecimento viesse a acontecer num prazo que fosse curto como convinha.
Todavia, já achamos muito reconfortante, visionar em pensamento os momentos que identificamos como os mais bem conseguidos, porque achamos que nos deram as maiores alegrias, e, esses factos saborosos, servem de estímulo para que continuemos a sonhar com futuros momentos, se possível, iguais, numa espécie de repetição, que a acontecer já não teria os mesmos cenários de outrora...
Entretanto, uns mais que outros, terão conseguido lidar com as boas lições, que a vida foi ou vai proporcionando, onde as escolhas vão ter de ser feitas depois de o raciocínio e a serenidade actuarem como conselheiros.
Ao longo das nossas vidas lidamos com gente sábia, que nos ajudou, sem saber, naturalmente, que o estariam a fazer e a quem ficamos agradecido. Assistimos também a bons exemplos dirigidos directamente a terceiros de que fomos testemunha, mas, que, infelizmente, acabariam por "cair em saco roto"... De entre esses queria destacar aquele que acabou por me chocar e que não resisto a contar:
-« Há seguramente vinte anos, encontrei-me por casualidade a almoçar na mesma mesa de um restaurante com outros dois profissionais que laboravam na mesma companhia e foi por essa razão que nos viríamos a encontrar naquele local e àquela hora... Falou-se de várias coisas, como sempre acontece em situações semelhantes, mas em determinado momento o homem de mais idade, aproveita a ocasião para relembrar ao mais jovem que tivesse mais cuidado, porque vinha a observar - há já algum tempo - que a forma como se comportava no comando da sua pesada moto, era de molde a prever que iria acabar por se matar!... A seguir, deu-se ao cuidado de explicar e contou até que tomara parte em corridas de motas de grande cilindrada em várias cidades de Angola durante a sua juventude, e, que, a experiência aí adquirida, levavam-no a prever a tal fatalidade, se, entretanto, não viesse a mudar de comportamento... O jovem lá se justificou e deu mostras de não aceitar o palpite ditado pela experiência e foi buscar até alguns argumentos, que fariam dele um condutor à altura das velocidades e dos zig-zagues com que brindava quem observava tais habilidades! Passaram- se umas duas semanas, o tempo suficiente para que a notícia chegasse até nós, dando conta de que o jovem havia tido morte imediata num despiste a cerca de cem metros da casa onde morava na Granja, ali próximo de Espinho...»
Avisos deste e de outro teor são o pão nosso de cada dia, mas alguma experiência, vai-nos alertando, de que há fases na vida dos humanos em que os conselhos raramente são aceites, por teimosia, dizem alguns, enquanto outros culpam a imaturidade e a irresponsabilidade!... E será só isso?!...

domingo, 16 de janeiro de 2011

CADA UM É PR'Ó QUE NASCE?!...

Ainda não entendi lá muito bem até onde podemos ir com este provérbio popular e que pensamos será já muito antigo! Pensamos, que poderá mesmo ter várias interpretações, muito embora aquela com quem convivemos melhor e a que queremos dar crédito tem a ver com uma postura digna em todos os momentos da vida, não pretendendo nunca passar os limites da decência, nem para ir atrás daquele, com quem fizemos a primária e que pelos vistos veio anos depois a dar nas vistas no mundo dos negócios, pondo assim, talvez, em cheque o tal provérbio, dado que nunca nos passara pela cabeça, que, se, tornaria, poucos anos volvidos, numa figura com jeito para essas andanças e lembro-me até, na quarta classe, que era um dos que tinha muitas dificuldades em construir as frases e então nos verbos irregulares emperrava como nenhum outro!... Nesses tempos, já um pouco longínquos, fiquei com a ideia de que aquele miúdo iria ter muitas dificuldades para singrar em qualquer profissão no mercado de trabalho, mas passados todos estes anos, e, pelo que vou ouvindo, lá na aldeia, fizera mesmo vida no que toca às questões financeiras, muito embora as pessoas não saibam desenvolver como tudo terá acontecido e nem falam - nem pensarão nisso... - se o êxito de que falam também acontece na sua vida familiar e no seu relacionamento com a sociedade... Queremos acreditar que sim!
Um outro nosso parceiro da escola primária, um tudo mais nervoso, tivera sempre uma prestação mais regular em qualquer das disciplinas e não tivemos uma tão grande surpresa quando ficamos a saber que se lançara em projectos na construção civil, creio que no Uruguai, para onde abalara com os pais e onde viria a ter algum sucesso, mas nos últimos tempos, parece que a roda terá desandado e mudou-se para o vizinho Brasil, com a esperança de recuperar e o Brasil era ali mesmo ao lado...
Ficou-nos, porém, na retina um outro miúdo, que, como os demais, era filho de gente humilde e laboriosa, porque nada cai do céu e o número de filhos não lhes permitia outro modo de vida! Sempre admirei aquele nosso colega, porque era um aluno soberbo em todas as disciplinas, muito certinho e fiquei sem saber se estudaria em casa, coisa que na aldeia não era hábito neste início dos anos cinquenta... A sua leitura era fluente e ritmada pela pontuação que aprendera a respeitar, coisa que alguns procuravam imitar, sem o conseguir, e, ainda hoje, cremos acreditar, que aquele rapazinho deveria ter hábitos de leitura fora da escola, que, agora, sabe-se ser a base para um bom desempenho académico. Do que nos recordamos, lembro-me que a professora, uma profissional pontual e muito exigente, mas muito parca nos elogios, lá ia reconhecendo, de vez em quando, o mérito de quem o tinha e mostrava satisfação no aproveitamento dos alunos que se destacavam, e, não demorou muito tempo, que viéssemos a compreender como era correcta a postura daquela profissional do ensino! Lá está, incompreensivelmente, aquele miúdo, brilhante aluno com dez anos de idade viria a ter um fim trágico, anos mais tarde, na guerra colonial, pagando com a vida as vicissitudes de um conflito, que, julgamos, nem conheceria bem, porque na época, com os demais, sucederia o mesmo e há sempre alguém a beneficiar da ignorância dos humildes...
Desde a primária que fiquei "marcado" pelos bons exemplos daquela professora e daquele meu colega e os livros e outras leituras, passaram a ser a minha principal fonte,onde passei a ir buscar uma boa parte do que precisei durante a minha actividade profissional e também para a minha formação como cidadão, que, como todos sabemos, só irá terminar no fim das nossas vidas.
Será que nos devemos conformar e resignar, encolhendo os ombros, ao bom estilo,"maria vai com as outras...", aceitando o que à partida, alguém, ou a própria sociedade terão "engendrado" para nós?!
Não teremos o direito de saber crescer inconformados, se isso for necessário, sendo exigentes com nós próprios e também com os outros, sem abdicar dos princípios e da ética, para que possamos dizer lá mais para o final e com todo o propósito:-« Obrigado àqueles dois seres, infelizmente já desaparecidos, porque para nosso bem e logo no início da nossa longa e difícil caminhada, nos indicaram para a única maneira de estar numa sociedade, em que o servir e ser servido sempre estiveram na ordem do dia!?...»

Nota: Este é um outro dos meus trabalhos em acrílico, um pescador algures na Europa!...

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

HÁ NASCER, VIVER E MORRER!...

Já sabia que era uma questão de dias!... O desenlace aconteceu ontem, precisamente a quatro de Janeiro, mas de 2011... A última rosa que era vermelha resistiu e muito, pareceu-me que estava decidida a viver quanto mais melhor, porque, talvez soubesse, que também era essa a nossa vontade! Mesmo nos dias chuvosos e frios, nunca deixei de me aproximar daquela que seria a última rosa do jardim e até tinha o cuidado de regar a roseira num ou outro dia mais solarengo, embora, devido ao Inverno que já começou e se faz sentir por todo o lado, nem seria necessário associar mais humidade a quem tão bem resistiu aos dias quentes do Verão e do Outono!
Foi um desaparecimento lento e que foi deixando marcas que anunciavam o pior! A cor começara por perder aquele brilho intenso e aos poucos dava mostras de que se iniciara como que um processo degenerativo! Ao mesmo tempo que perdia o brilho, percebia-se que a sua forma se alterava e deixava a forma homogénea, que encanta os nossos olhos e que não nos deixa indiferentes. O pior viria depois, quando as primeiras pétalas não resistindo ao processo degenerativo acabaram por se soltar e ao tentar pôr-lhe a mão como que a tentar evitar o inevitável, mais duas pétalas se soltaram e aí percebi que o processo era irreversível...
Custa-nos imenso as perdas de coisas a que nos afeiçoamos, porque sentimos que somos atingidos na nossa sensibilidade, mas que não há cura nem remédio para que o ciclo da vida seja diferente e daí a nossa resignação, que, se for acompanhada pela compreensão possível e desejável nos tornará seres de muito melhor qualidade e todo o Universo agradece e rejubila!
Desta vez pegamos num pequeno e insignificante exemplo, como este de uma rosa vermelha que nasceu em fins de um Outono algo estranho e que de botão resistiu mais que o habitual até se abrir como que em esforço já Dezembro ia a meio, mas os exemplos sobre os diferentes ciclos de vida são tantos e variados, que, da mesma forma que por nós são vividos, com igual ligeireza são arrumados e até esquecidos, e, se não fora assim, nem o nosso cérebro seria capaz de atingir alguns dos fins para que fora criado, e, aqui, parece-nos, que os conceitos e as sensibilidades diferem muito e tanto assim é que as divergências entre os humanos existem numa proporção que muitos consideram avassaladora, mas que poderá nem sê-lo!...
Reparemos nestes pequenos e elucidativos exemplos que vão acontecendo em simultâneo, neste nosso pequeno planeta:- «Enquanto um ser humano assiste algo incomodado ao fim de vida de uma flor que até deixara de ser bela ou formosa, na mesma latitude, mas um pouco afastado para Ocidente ou Oriente, num moderno e sofisticado laboratório, alguns outros humanos devidamente "protegidos" procuram encontrar a fórmula ou fórmulas para "chegar" à tal arma poderosa, que fará com que o resto da Humanidade se encolha e aceite uma superioridade bélica que irá ter as diversas consequências que todos estaremos a imaginar, como a desigualdade extrema que todos dizem querer reduzir e até eliminar...
Entretanto, bem mais perto de nós, algures neste continente num outro laboratório, também sofisticado, um outro grupo de homens e mulheres, devidamente equipados, como convém, procuram com afinco e determinação encontrar os caminhos que os possa conduzir com sucesso à cura de doenças terríveis como a sida, alhzeimer e diverso tipo de cancro...
Por paradoxal que possa parecer, bem mais perto de nós, algures em Portugal, um grupo de indivíduos, onde prevemos nem estará uma mulher sequer, em gabinetes fechados e providos de ar condicionado, tendo à disposição máquinas sofisticadas de cálculo, nem sempre utilizadas no passado, ou então mal utilizadas, procuram fazer as últimas contas para resolver ou enganar um passivo que deixaram descontrolar, em parte em proveito próprio, pelo menos à desconfiança já não fogem...»
O meu velho amigo, já desaparecido, nascido ali para as bandas de Famalicão, ia-me dizendo em meados dos anos setenta, com a sabedoria adquirida ao longo de uma vida difícil e trabalhosa:- « ... Cada um é p'ró que nasce!...»

Nota final: Decidi, não sei se bem, mostrar aos meus amigos, um pequeno trabalho feito em acrílico e que pretende ser uma justa homenagem aos homens do mar (Furadouro)