domingo, 16 de janeiro de 2011

CADA UM É PR'Ó QUE NASCE?!...

Ainda não entendi lá muito bem até onde podemos ir com este provérbio popular e que pensamos será já muito antigo! Pensamos, que poderá mesmo ter várias interpretações, muito embora aquela com quem convivemos melhor e a que queremos dar crédito tem a ver com uma postura digna em todos os momentos da vida, não pretendendo nunca passar os limites da decência, nem para ir atrás daquele, com quem fizemos a primária e que pelos vistos veio anos depois a dar nas vistas no mundo dos negócios, pondo assim, talvez, em cheque o tal provérbio, dado que nunca nos passara pela cabeça, que, se, tornaria, poucos anos volvidos, numa figura com jeito para essas andanças e lembro-me até, na quarta classe, que era um dos que tinha muitas dificuldades em construir as frases e então nos verbos irregulares emperrava como nenhum outro!... Nesses tempos, já um pouco longínquos, fiquei com a ideia de que aquele miúdo iria ter muitas dificuldades para singrar em qualquer profissão no mercado de trabalho, mas passados todos estes anos, e, pelo que vou ouvindo, lá na aldeia, fizera mesmo vida no que toca às questões financeiras, muito embora as pessoas não saibam desenvolver como tudo terá acontecido e nem falam - nem pensarão nisso... - se o êxito de que falam também acontece na sua vida familiar e no seu relacionamento com a sociedade... Queremos acreditar que sim!
Um outro nosso parceiro da escola primária, um tudo mais nervoso, tivera sempre uma prestação mais regular em qualquer das disciplinas e não tivemos uma tão grande surpresa quando ficamos a saber que se lançara em projectos na construção civil, creio que no Uruguai, para onde abalara com os pais e onde viria a ter algum sucesso, mas nos últimos tempos, parece que a roda terá desandado e mudou-se para o vizinho Brasil, com a esperança de recuperar e o Brasil era ali mesmo ao lado...
Ficou-nos, porém, na retina um outro miúdo, que, como os demais, era filho de gente humilde e laboriosa, porque nada cai do céu e o número de filhos não lhes permitia outro modo de vida! Sempre admirei aquele nosso colega, porque era um aluno soberbo em todas as disciplinas, muito certinho e fiquei sem saber se estudaria em casa, coisa que na aldeia não era hábito neste início dos anos cinquenta... A sua leitura era fluente e ritmada pela pontuação que aprendera a respeitar, coisa que alguns procuravam imitar, sem o conseguir, e, ainda hoje, cremos acreditar, que aquele rapazinho deveria ter hábitos de leitura fora da escola, que, agora, sabe-se ser a base para um bom desempenho académico. Do que nos recordamos, lembro-me que a professora, uma profissional pontual e muito exigente, mas muito parca nos elogios, lá ia reconhecendo, de vez em quando, o mérito de quem o tinha e mostrava satisfação no aproveitamento dos alunos que se destacavam, e, não demorou muito tempo, que viéssemos a compreender como era correcta a postura daquela profissional do ensino! Lá está, incompreensivelmente, aquele miúdo, brilhante aluno com dez anos de idade viria a ter um fim trágico, anos mais tarde, na guerra colonial, pagando com a vida as vicissitudes de um conflito, que, julgamos, nem conheceria bem, porque na época, com os demais, sucederia o mesmo e há sempre alguém a beneficiar da ignorância dos humildes...
Desde a primária que fiquei "marcado" pelos bons exemplos daquela professora e daquele meu colega e os livros e outras leituras, passaram a ser a minha principal fonte,onde passei a ir buscar uma boa parte do que precisei durante a minha actividade profissional e também para a minha formação como cidadão, que, como todos sabemos, só irá terminar no fim das nossas vidas.
Será que nos devemos conformar e resignar, encolhendo os ombros, ao bom estilo,"maria vai com as outras...", aceitando o que à partida, alguém, ou a própria sociedade terão "engendrado" para nós?!
Não teremos o direito de saber crescer inconformados, se isso for necessário, sendo exigentes com nós próprios e também com os outros, sem abdicar dos princípios e da ética, para que possamos dizer lá mais para o final e com todo o propósito:-« Obrigado àqueles dois seres, infelizmente já desaparecidos, porque para nosso bem e logo no início da nossa longa e difícil caminhada, nos indicaram para a única maneira de estar numa sociedade, em que o servir e ser servido sempre estiveram na ordem do dia!?...»

Nota: Este é um outro dos meus trabalhos em acrílico, um pescador algures na Europa!...

4 comentários:

  1. primo Augusto o quadro esta muito giro
    e o texto esta fantastico, parabens

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  2. Estes exemplos são por demais evidentes e as diferênças que existiam em miúdos da nossa infância.
    Atravessando o Rio Douro de Barco Pedorido/Rio Mau, uns quilómetros mais a cima um dos alunos mais brilhantes, fugia da escola como então se dizia o Diabo fugia das almas, valia-lhe que estudava em casa e levava quase a lição na ponta da lingua.
    Quando os nossos antepassados diziam que cada um é p´ró que nasce ainda hoje assim é, porque há tantos que se metem em coisas que não percebem patabina e só lhe vão dando alguma saída lesando o parceiro indiferentemente se foi seu amigo de infância ou se cresceu com ele. Diz-se que meio mundo lesa outro meio e desse meio ainda, 25% tentam enganar os outros 25%. Isto não nadará longe da verdade, nesse lote de gente sem escrupúlos.
    Acredito que o ter de ser tem muita força, mas o ser humano tem força para alterar uma parte significativa.
    Achei o texto brilhante e é a continuidade da enorme qualidade a que já estamos habituados.
    Parabéns
    Valdemar Ferreira Marinheiro

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  3. Mais uma mensagem de grande valor que o Amigo Piko aqui nos deixa, para que com ela possamos meditar no que tem sido desde oos bancos da Escola, a nossa vida.
    Tinha ideia que já tinha feito um comentário a esta mensagem e hoje ao rele-la cheguei á conclusão que falhei, isto de memória já deu o que tinha a dar.
    Um abraço
    Virgílio

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  4. Li, e como sempre gostei!
    És um homem que do pouco fazes muito…
    Num aspecto filosófico, desenvolves eloquentemente como poucos…!
    Embora não comente com assiduidade, porque aí, além do tempo não sobejar, a disposição está de rastos depois dum dia de trabalho longo e saturante (…) Contudo, como sei que compreendes; sei também que estou desculpado, verdade amigo Pikó?
    Artur/Leiria

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