quinta-feira, 22 de abril de 2010

INTOLERÂNCIA RELIGIOSA NOS ANOS CINQ.- (2ª Parte)

Recuar até aos anos Cinquenta e retermo-nos por uns instantes que seja a procurar visionar recordações de uma época já um pouco distante, mas, que, seguramente, não foi esquecida e que merece ser aflorada, independentemente dos factos serem bons e menos bons, para que possamos perceber que também fizemos parte dessas histórias, que nos cruzamos pelos mesmos caminhos de uma vivência que foi deveras difícil e que assistimos a muitos factos que atestam isso mesmo, ou, que, mais dia menos dia, acabaríamos por conhecer, porque era uma ligação diária e muito personalizada, que contrabalançava como que em oposição aos baixos conhecimentos escolares, onde uma larga maioria nem saberia ler e os outros tinham poucos hábitos de leitura, excluindo tudo quanto estivesse relacionado com as leituras religiosas, uma prática muito incentivada por uma igreja católica, que por ser única, dirigia a seu bel-prazer tudo o que deveria ou não ser feito por toda esta gente, que aspirava chegar um dia ao Céu, temendo ter de passar pelo Purgatório, mas afugentando para bem longe a hipótese de cair no Inferno...
Na época, os padres católicos tinham um estatuto social bastante elevado e sobretudo um poder, que, quase ninguém ousava enfrentar, porque era uma igreja que se tinha enraizado ao poder político de partido único, respirando o mesmo ar arrogante e que não admitia, sequer, a contradição, quando se envolvia em questões que nada tinham a ver com o catolicismo, sendo esse mais um dos grandes pecados cometidos por uma boa parte desses abades e com a cobertura das suas hierarquias. Claro, que houve honrosas excepções de abades que não excederam os limites da prática religiosa e do amor ao próximo, mas viram-se excluídos de progressão nas suas carreiras, por não serem da "confiança" absoluta dos chefes!...
Acontece, que em Pedorido essa intolerância era por mais evidente e visava sempre os mais humildes e a história que vamos contar prova isso mesmo:
« Ali pelo ano de 1955, alguns rapazes do Alto Picão, trabalhadores das minas e cheios de genica, até pela idade e ainda porque eram solteiros e bons rapazes, decidiram ocupar uma pequena parte de uma bela tarde de um domingo primaveril a "imitar" uma prática religiosa tão do agrado dos cristãos a que chamam Compasso, como se tivessem regressado ao tempo das "casinhas"...
Fizeram-no duma forma espontânea, com uma cruz de madeira grotesca, às "três pancadas", de exposição muito reduzida, e, pensamos nós, que debaixo de um clima de "muito boa disposição", próprio dos meios mineiros, onde as tabernas funcionavam de manhã à noite, e, só quem não viveu naquela época, poderá achar uma coisa insólita e muito desproporcionada...
Ora, numa aldeia controlada ao pormenor, é certo e sabido que o dono do rebanho foi de imediato avisado pelos informadores, que até podem não ter visto, mas que puseram pés a caminho como era seu "dever", levando até ao abade uma "boa notícia", de "qualidade rara" , presume-se... O abade não era de "meias medidas" e vai de excomungar, de imediato, dois dos brincalhões e foi assim colocada uma pedra sobre um assunto, em que mais uma vez, a igreja católica, foi tão mal servida por um vigário que usou a vingança sobre uns quantos humildes, que bem necessitados andariam de alguma compreensão e ajuda, para poder continuar a suportar a "cruz pesada" que a profissão e o baixo salário de mineiro a todos colocava!... »
O que ainda espanta é que uma Instituição como a igreja católica, bem organizada pelo que nos é dado observar, não tenha tido até aos dias de hoje a humildade de "descer à terra" para reconhecer e explicar a toda a sociedade que errou, como errou e porque errou....
Era tão fácil, era justo e seria uma boa prática, a prática da tolerância e do respeito pelos humildes, e, para se ficar a perceber, que, finalmente, esta mesma igreja havia cortado com as práticas erradas do seu passado recente!

2 comentários:

  1. Amigo.
    Dos anos 50 até hoje, as coisas se calhar apenas e só mudaram na perca do poderio dos Responsáveis da Igreja, por terem perdido o controle do secretismo absoluto e as pessoas com capacidade de au-controle, aperceberem-se que os únicos que conduzem o seu destino são os próprio e ninguem pode controlar totalmente a natureza.
    Essa sim em muitos casos com poder absolutista e em muitos casos felizmente que assim é de contrário estavamos fritos e refritos.
    Porque carga de água quem não prejudica outros terá de ser perdoado por alguém, ou ainda se houvesse como no nosso tempo Céu, Inferno e Pergatório, obedecia a regras tipo militância politíca e cada um recebia os seus clientes.
    Porque castigo seria o Diabo obrigado a tomar conta das pestes todas que tanto mal cá fazem na Terra.
    Tens ca+pacidade para desenvolver e deixares para os actuais e vindouros ricos exemplos como estes, fundamentados com: princípio, meio e fim.

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  2. pikó.
    Escreveste num comentário no porta da capitania: « DEUS NÃO NOS FEZ. NÓS FIZEMOS DEUS!»« AS RELIGIÕES ENVENENARAM TUDO!», não posso estar mais de acordo, penso que a par da ganância, da hipocrisia, da demência as religiões contribuíram em grande parte para os males deste mundo. No entanto também reconheço que muitos religiosos contribuíram para o desenvolvimento da sociedade tanto nas artes, na ciência ou solidariedade. Não sou contra que as pessoas acreditem numa vida para além da morte, até acho que estão bem melhor que eu, pois quando estão à rasca agarram-se às divindades e obtêm algum consolo ou quando morrerem vão desfrutar de rios de mel ou virgens sequiosas, enquanto eu se quiser algum consolo consolo-me sozinho (sem segunda leitura):-) ou quando morrer vou para o céu dos pardais, no caso prefiro as profundezas do oceano.
    E VIVA O 25 SEMPRE

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