Há alguns dias voltei a Rio Mau e porquê?!
A verdade é que aspirava voltar àquela bonita aldeia, e, se o não fiz antes, foi porque demos prioridade a coisas que nos ocuparam em demasia, e, que, em boa verdade, algumas delas, nem seriam de interesse relevante!
O chamamento era forte e a felicidade não podia ser mais adiada! Tentei prever os passos que iria dar nos dias que antecederam a minha partida, mas desconhecia quem iria encontrar dos bons velhos tempos, embora não tivesse preocupação quanto a isso, já que a boa hospitalidade é um dado adquirido daquela gente, para mais tratando-se dum filho da terra, como era o caso.
Fui direitinho à Foz e dali contemplei enternecido Pedorido na outra margem, que também é a aldeia que mora comigo, porque não é em vão que ali se vive até aos vinte anos!...
Mesmo que não quiséssemos, as recordações não paravam e eram muitas... Desde logo, senti o antagonismo do DOURO que conheci, mais estreito, como era seu hábito nos meses de Setembro, em que as águas eram sempre turvas, quase barrentas e onde todo o extenso areal chegava a ter maior expressão que o reduzido caudal do rio, já que se estendia lá de cima em frente de Rio Mau, continuava pela frente da Penela, ali bem defronte a Pedorido, e, onde já se podia verificar o nítido contraste entre a cor das águas do Douro com as do Arda, sempre tão límpidas e azuladas, e, que, teimosamente, se encostavam bem junto à margem esquerda, até para lá da Lingueta, retardando quanto possível a mistura das suas águas com as do Douro, o que só viria a permitir, lá mais para diante, junto a uma pesqueira e que no rigor do Verão, mais parecia um promontório, por ficar totalmente fora de água... Era aqui, um pouco mais acima, que pontificava a quinta de Fornelo, bem resguardada e também bem trabalhada e que devido à sua favorecida colocação no terreno, bem poderia apreciar os variados cenários que se iam sucedendo, mesmo ali à sua frente, visionar não só as metamorfoses em que o Douro era pródigo durante os doze meses do ano, mas ainda todo o vale que se esgotava lá longe no Remoinho em Rio Mau, portando-se como um observador sempre presente de todas as peripécias de que foi testemunha priviligiada, merecendo destaque as enormes dificuldades, que, todas as embarcações, em especial os barcos RABELO, sentiam, para transpôr aquele curto mas difícil " galheiro ," ali mesmo nas suas barbas, sabendo os barqueiros que dali até à Régua, o pior estava ainda por vencer, caso o abendiçoado vento marítimo não aparecesse a inflamar as velas remendadas, como tantas vezes sucedia!...
Era uma luta titânica , tanto a descida como a subida do Douro,levada a cabo por estes homens, que um dia se fizeram barqueiros de um Rio, que nunca os haveria de compreender...
Esta pequena quinta era como que um marco entre o Arda, Pedorido e Germunde, sendo, este, um lugar sombrio, de certa forma estranho e de muita labuta, e, onde, diariamente, centenas de trabalhadores se encontravam, para os mais variados trabalhos da Carbonífera, sendo, que, a maioria eram mineiros!... Na verdade, Germunde nunca nos pareceu um lugar acolhedor, por natureza, em que até o Sol entrava mal, com um terreno acidentado até ao Rio e onde imperava a cor negra do carvão por tudo quanto era sítio... Também não creio, que as gerações que por ali passaram questionassem a tal ausência de beleza do referido local, porque a missão que para lá os levava, diariamente, era de outra índole, e, tinha sobretudo a ver com a luta pela sobrevivência, e, essa, tinha e sempre terá muita força! Acontece, que a profissão de mineiro, era até de um grande risco!
Almocei na Foz, no único mas acolhedor restaurante que ali fui encontrar, mas durante todo o almoço não fui capaz de desviar o olhar da outra margem, e, só então pude perceber melhor, que, afinal, continuava muito dividido entre Pedorido e Rio Mau, o que pensando bem, é até muito natural! Foi nestas duas bonitas aldeias, como teimo carinhosamente em chamar-lhes, que aprendi o essencial, e, neste essencial, estou a englobar o muito bom e naturalmente o menos bom, de que ninguém se livra, mesmo os que nascem em berços dourados, que não foi o meu caso, felizmente o digo...
Tive, confesso, grande dificuldade em concentrar-me e as mudanças que fui observando também não vieram ajudar... As águas do Douro terão agora muito mais que o triplo da largura, os areais sumiram-se, a cor das suas águas também se modificaram, são de um azul muito próximo do azul do Arda e já não é perceptível a dupla identidade dos dois rios. Foram várias as perdas, e, perdeu-se, ainda, a BARCA no seu característico vai-vem, entre as duas margens e que era tão útil às populações ribeirinhas, e vi, por tudo isto, a tristeza aumentar, talvez, por perceber toda a impotência da minha parte em alterar de imediato o que já é uma impossibilidade!...
Claro, que, fiz um grande esforço mental para abandonar todos aqueles cenários e procurei ajuda na paisagem, algo, que me derpertasse de novo e me retirasse do desconforto em que havia caído. É então que " descubro " a altivez de uma nova ponte junto à foz do Arda, e, isso, veio como que alterar o meu estado de alma, por querer acreditar ainda que, poderemos estar a caminho de um " novo " tipo de desenvolvimento para benefício de todas as zonas ribeirinhas do Douro, beneficiando quem sempre aqui viveu e que tem verdadeiro amor à região.
Reparando melhor e no momento, parece-nos que as Concas, terá perdido a grandeza, a beleza, a alegria e até um certo romantismo de outrora e o nosso Arda, já não é aquele rio autónomo que conhecéramos e a sua RIBEIRA também já não existe...
Resta apenas, nas nossas cabeças, os belos cenários dos anos CINQUENTA e SESSENTA e o muito amor que tínhamos ao ARDA e à sua personalidade de rio interior e muito amigo das gentes de Pedorido! Foi um companheiro de caminhada de muitas gerações, perante as quais nos curvamos respeitosamente! Nunca será fácil mexer com as MEMÓRIAS!...
Que dizer, ainda da Ribeira, imponente em ambas as margens, que só não tinha continuidade em menos de CEM metros junto à PAÇARIA, na margem direita!
À distância de mais de cinquenta anos, recordo com nostalgia toda a beleza daquela Ribeira, que fazia lembrar um enorme " jardim " e que tinha o seu início junto à foz do Arda e em ambas as margens, e, continuava para lá de Aradelo, creio ser este o nome, estamos a falar de grandes distâncias e muitos milhares de hectares!...
Era a ocupação e o sustento de muitas famílias, porque era possível retirar daquelas terras gordas, boa produção. E não era só milho e feijão!...
Convém aqui referir, ainda, que, enquanto a preciosa água ia faltando um pouco por toda a aldeia, à medida que a exploração do carvão avançava, toda a Ribeira não sentia esse problema, porque o ARDA estava ali, mesmo à mão de semear, era só o lavrador coordenar os trabalhos e na hora pôr a NORA em funcionamento... E, se bem me recordo, as noras abundavam, de acordo com o essencial, ao longo de toda a Ribeira.
O casario em Pedorido também sofreu alterações de monta! O Alto do Picão e a Mina da Pedra perderam praticamente todas as casas, devido à exploração mineira, mas em contra-partida, grande parte daquele Monte que fica entre o Douro e o Arda, tem sido palco de novas e melhores construções e quer-nos parecer que Pedorido e Oliveira do Arda estarão já ligadas pelo casario!
Por outro lado, esta nova zona de construção terá melhor acessibilidade que as zonas que foram sendo abandonadas, e, do ponto de vista de salubridade, parece, que, também não há comparação possível.
Apetece-nos dizer, que se confirma, aqui, aquela bela frase do poeta, quando exclama com convicção:
«É fundamental que o Homem sonhe para que as coisas aconteçam»
UM ENORME ABRAÇO PARA PEDORIDO E RIO MAU !
A verdade é que aspirava voltar àquela bonita aldeia, e, se o não fiz antes, foi porque demos prioridade a coisas que nos ocuparam em demasia, e, que, em boa verdade, algumas delas, nem seriam de interesse relevante!
O chamamento era forte e a felicidade não podia ser mais adiada! Tentei prever os passos que iria dar nos dias que antecederam a minha partida, mas desconhecia quem iria encontrar dos bons velhos tempos, embora não tivesse preocupação quanto a isso, já que a boa hospitalidade é um dado adquirido daquela gente, para mais tratando-se dum filho da terra, como era o caso.
Fui direitinho à Foz e dali contemplei enternecido Pedorido na outra margem, que também é a aldeia que mora comigo, porque não é em vão que ali se vive até aos vinte anos!...
Mesmo que não quiséssemos, as recordações não paravam e eram muitas... Desde logo, senti o antagonismo do DOURO que conheci, mais estreito, como era seu hábito nos meses de Setembro, em que as águas eram sempre turvas, quase barrentas e onde todo o extenso areal chegava a ter maior expressão que o reduzido caudal do rio, já que se estendia lá de cima em frente de Rio Mau, continuava pela frente da Penela, ali bem defronte a Pedorido, e, onde já se podia verificar o nítido contraste entre a cor das águas do Douro com as do Arda, sempre tão límpidas e azuladas, e, que, teimosamente, se encostavam bem junto à margem esquerda, até para lá da Lingueta, retardando quanto possível a mistura das suas águas com as do Douro, o que só viria a permitir, lá mais para diante, junto a uma pesqueira e que no rigor do Verão, mais parecia um promontório, por ficar totalmente fora de água... Era aqui, um pouco mais acima, que pontificava a quinta de Fornelo, bem resguardada e também bem trabalhada e que devido à sua favorecida colocação no terreno, bem poderia apreciar os variados cenários que se iam sucedendo, mesmo ali à sua frente, visionar não só as metamorfoses em que o Douro era pródigo durante os doze meses do ano, mas ainda todo o vale que se esgotava lá longe no Remoinho em Rio Mau, portando-se como um observador sempre presente de todas as peripécias de que foi testemunha priviligiada, merecendo destaque as enormes dificuldades, que, todas as embarcações, em especial os barcos RABELO, sentiam, para transpôr aquele curto mas difícil " galheiro ," ali mesmo nas suas barbas, sabendo os barqueiros que dali até à Régua, o pior estava ainda por vencer, caso o abendiçoado vento marítimo não aparecesse a inflamar as velas remendadas, como tantas vezes sucedia!...
Era uma luta titânica , tanto a descida como a subida do Douro,levada a cabo por estes homens, que um dia se fizeram barqueiros de um Rio, que nunca os haveria de compreender...
Esta pequena quinta era como que um marco entre o Arda, Pedorido e Germunde, sendo, este, um lugar sombrio, de certa forma estranho e de muita labuta, e, onde, diariamente, centenas de trabalhadores se encontravam, para os mais variados trabalhos da Carbonífera, sendo, que, a maioria eram mineiros!... Na verdade, Germunde nunca nos pareceu um lugar acolhedor, por natureza, em que até o Sol entrava mal, com um terreno acidentado até ao Rio e onde imperava a cor negra do carvão por tudo quanto era sítio... Também não creio, que as gerações que por ali passaram questionassem a tal ausência de beleza do referido local, porque a missão que para lá os levava, diariamente, era de outra índole, e, tinha sobretudo a ver com a luta pela sobrevivência, e, essa, tinha e sempre terá muita força! Acontece, que a profissão de mineiro, era até de um grande risco!
Almocei na Foz, no único mas acolhedor restaurante que ali fui encontrar, mas durante todo o almoço não fui capaz de desviar o olhar da outra margem, e, só então pude perceber melhor, que, afinal, continuava muito dividido entre Pedorido e Rio Mau, o que pensando bem, é até muito natural! Foi nestas duas bonitas aldeias, como teimo carinhosamente em chamar-lhes, que aprendi o essencial, e, neste essencial, estou a englobar o muito bom e naturalmente o menos bom, de que ninguém se livra, mesmo os que nascem em berços dourados, que não foi o meu caso, felizmente o digo...
Tive, confesso, grande dificuldade em concentrar-me e as mudanças que fui observando também não vieram ajudar... As águas do Douro terão agora muito mais que o triplo da largura, os areais sumiram-se, a cor das suas águas também se modificaram, são de um azul muito próximo do azul do Arda e já não é perceptível a dupla identidade dos dois rios. Foram várias as perdas, e, perdeu-se, ainda, a BARCA no seu característico vai-vem, entre as duas margens e que era tão útil às populações ribeirinhas, e vi, por tudo isto, a tristeza aumentar, talvez, por perceber toda a impotência da minha parte em alterar de imediato o que já é uma impossibilidade!...
Claro, que, fiz um grande esforço mental para abandonar todos aqueles cenários e procurei ajuda na paisagem, algo, que me derpertasse de novo e me retirasse do desconforto em que havia caído. É então que " descubro " a altivez de uma nova ponte junto à foz do Arda, e, isso, veio como que alterar o meu estado de alma, por querer acreditar ainda que, poderemos estar a caminho de um " novo " tipo de desenvolvimento para benefício de todas as zonas ribeirinhas do Douro, beneficiando quem sempre aqui viveu e que tem verdadeiro amor à região.
Reparando melhor e no momento, parece-nos que as Concas, terá perdido a grandeza, a beleza, a alegria e até um certo romantismo de outrora e o nosso Arda, já não é aquele rio autónomo que conhecéramos e a sua RIBEIRA também já não existe...
Resta apenas, nas nossas cabeças, os belos cenários dos anos CINQUENTA e SESSENTA e o muito amor que tínhamos ao ARDA e à sua personalidade de rio interior e muito amigo das gentes de Pedorido! Foi um companheiro de caminhada de muitas gerações, perante as quais nos curvamos respeitosamente! Nunca será fácil mexer com as MEMÓRIAS!...
Que dizer, ainda da Ribeira, imponente em ambas as margens, que só não tinha continuidade em menos de CEM metros junto à PAÇARIA, na margem direita!
À distância de mais de cinquenta anos, recordo com nostalgia toda a beleza daquela Ribeira, que fazia lembrar um enorme " jardim " e que tinha o seu início junto à foz do Arda e em ambas as margens, e, continuava para lá de Aradelo, creio ser este o nome, estamos a falar de grandes distâncias e muitos milhares de hectares!...
Era a ocupação e o sustento de muitas famílias, porque era possível retirar daquelas terras gordas, boa produção. E não era só milho e feijão!...
Convém aqui referir, ainda, que, enquanto a preciosa água ia faltando um pouco por toda a aldeia, à medida que a exploração do carvão avançava, toda a Ribeira não sentia esse problema, porque o ARDA estava ali, mesmo à mão de semear, era só o lavrador coordenar os trabalhos e na hora pôr a NORA em funcionamento... E, se bem me recordo, as noras abundavam, de acordo com o essencial, ao longo de toda a Ribeira.
O casario em Pedorido também sofreu alterações de monta! O Alto do Picão e a Mina da Pedra perderam praticamente todas as casas, devido à exploração mineira, mas em contra-partida, grande parte daquele Monte que fica entre o Douro e o Arda, tem sido palco de novas e melhores construções e quer-nos parecer que Pedorido e Oliveira do Arda estarão já ligadas pelo casario!
Por outro lado, esta nova zona de construção terá melhor acessibilidade que as zonas que foram sendo abandonadas, e, do ponto de vista de salubridade, parece, que, também não há comparação possível.
Apetece-nos dizer, que se confirma, aqui, aquela bela frase do poeta, quando exclama com convicção:
«É fundamental que o Homem sonhe para que as coisas aconteçam»
UM ENORME ABRAÇO PARA PEDORIDO E RIO MAU !
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