sábado, 17 de julho de 2010

Inveja de Vizinhas!...

Até que podiam dar-se bem melhor, porque sendo vizinhas, aconselharia o bom senso que fossem por aí!... Mas até ontem, ninguém havia conseguido fazer com que aquelas duas se entendessem no essencial, mas com o passar do tempo, que costuma ser bom conselheiro, as coisas até pioraram, deixaram mesmo de falar e por este andar não se antevê melhores dias, embora todos garantam, "a pés juntos", que nunca as viram discutir, mas que se vê a "olho nu", que o ambiente entre ambas é de "cortar à faca" e gelado, gelado, apesar do tempo quente que aí está!...
Dizem, os que estão mais por dentro do caso, e, pelo que nos apercebemos, a aldeia em peso há muito que sabe das divergências, e, há mesmo aqueles, que avançam com a hipótese de um dia destes verem o desentendimento ir parar aos tribunais!... Os mais sensatos, valendo-se da experiência e pelo que vão lendo e ouvindo pelos jornais e pelos tele-jornais, vão afirmando convictamente, que vai ser pura perda de tempo, que neste país que Abril resgatou, os tribunais não se entendem com as leis que demoram dez anos e mais a dar uma sentença, que só depois transitará em julgado, não, sem que antes, tenha de ser apreciado por outros juízes de outros tribunais e que já ninguém acredita, e, focam mesmo o célebre processo da Casa Pia, que "não ata nem desata" e que pelo "andar da carruagem" irá ficar em "águas de bacalhau", um termo muito usado nesta nossa aldeia!
Os mais antigos, felizmente ainda muitos e que conhecem bem toda a história, vão ao ponto de dar o seu palpite e percebe-se um "fraquinho" pela mais idosa, porque não acham jeito, dizem mesmo que é desumano terem-na abandonado completamente e pelo aspecto de todos os dias, pela maneira como se apresenta, parece que nem família tem, e, isso nem é verdade, só que não lhe ligam nenhuma... « É muito triste chegar a velho - rematam alguns pedoridenses - porque já não temos a mesma utilidade e começamos a dar trabalhos e até os familiares, quando os há, querem mas é ver-se livres do empecilho!...»
A verdade é que a vizinha mais nova tem muita coisa a seu favor, a começar pela idade, que lhe dá para se movimentar muito melhor e vai arranjar outros apoios, mesmo fora da aldeia e nos dias de hoje, isso conta e de que maneira!... Desde os poderes restritos lá em cima na Vila, mas que contam, quanto mais não seja, pelos interesses que estão à vista de todos, até às ligações a este e àquele ministério sediados em Aveiro, ou mesmo na Capital, quase dá para concluir, que com tribunais ou sem tribunais a vizinha nova leva para já larga vantagem, e, não será por acaso, que, ainda há dias, vimos "com estes dois que a terra há-de comer", como até se apresenta ao público toda bem arranjada, toda "modernaça", muito bem pintada e a transpirar uma felicidade e um à vontade de meter inveja à vizinha e mesmo àquelas que não são vizinhas!... Sinal dos novos tempos, que estão aí para ficar, dizem, embora com muitas divergências e incertezas, que as águas dos nossos dois rios - que já não são as mesmas de outrora - não se cansam de escutar, vindas dos pontos mais diversos e de ambas as margens, mas que não interferem nem um bocadinho, no deslizar das suas águas a caminho do mesmo Atlântico de sempre, agora com mais suavidade, muito mais calmas e alheias a todas as disputas humanas, incluindo das suas duas vizinhas - agora desavindas - e com quem fazem questão de manter um bom relacionamento, quanto mais não seja pela vizinhança, e, porque sabem, que podem contar com a cumplicidade e a protecção da Natureza, numa ligação que se crê com milhões de anos!!!....
Nota: Os pedoridenses atentos, já entenderam desde o início, que se trata de uma metáfora e se refere às duas pontes vizinhas do velhinho Arda e não pretende outros objectivos humanos, que quanto a nós não fariam qualquer sentido!...
-A MELHOR FORMA DE DAR A CONHECER A NOSSA ALDEIA É DIVULGÁ-LA!

Este post é uma cópia do que publicamos no blog PEdorido.com

Etiquetas: pontes, rios, invejas, águas, velhinhos

terça-feira, 13 de julho de 2010

As Concas, os Ciganos e a história do Camelo!... ( 3ª e última parte )

Terça-feira, Julho 13, 2010

Esta forma de vida independente e mesmo marginal da etnia cigana, haveria de criar alguns preconceitos e até alguma rejeição por parte das populações durienses, que não iriam ter qualquer impacto na opção de vida dos ciganos, que não hesitavam em dar resposta pronta, quando fosse caso disso e faziam-no com um certo orgulho por gestos, palavras, meias palavras e à mistura com algum nervosismo... Por falar em preconceitos e em rejeição, não resisto a contar-vos um facto passado nas Concas, quando decorria o ano de 1956:
«- Num belo dia de Primavera, um dos burritos terá escapado do acampamento cigano, vindo a aparecer no extremo oposto, nas proximidades do Arda e da sua ponte, procurando matar o apetite num terreno de um pequeno lavrador da nossa aldeia, depois de ter forçado a vedação.
Não sabemos se por coincindência, ou por ter sido avisado, o nosso agricultor veio ainda a encontrar o inconsciente animal a saborear as suas verduras e perante o desaforo desatou aos berros, ao mesmo tempo que esbracejava... Num breve espaço de tempo alguns miúdos e até adultos acorreram ao local, e, logo de seguida apareceu um cigano vindo do acampamento, que de imediato se dirigiu ao homem que não paráva de barafustar, para em tom humilde e respeitoso fazer o seguinte apelo:
- Desculpe senhor!...
O dono da horta ao ver o ar submisso e até comprometido do cigano dá-lhe como resposta:
- Não tem nada que desculpar! Só quero saber de quem é o camelo!?... »
Ficamos sem saber como terá terminado o diferendo entre as partes, mas sempre que recordamos o incindente, temos alguma dificuldade em entender como fora possível confundir um pequeno burro com um camelo!...
-RECORDAR É VIVER DUAS VEZES!
Nota: Cópia do post publicado em PEdorido.com

domingo, 11 de julho de 2010

As Concas, os Ciganos e a história do Camelo!... ( 2ª parte )

O "divórcio" entre a nossa sociedade e a etnia cigana, era pelas razões apontadas um facto, até porque as curtas estadias de uma semana ou um pouco mais deste povo nómada, eram como que a garantia de que uns e outros, mantivessem as "distâncias" e nada de anormal viesse a complicar uma vizinhança que nunca seria efectiva... De resto, nem seria bom para ninguém e sempre nos causou algum espanto que a República tivesse criado uma lei em que constaria a tal obrigatoriedade, dizia-se, de os ciganos poderem permanecer apenas alguns dias no mesmo sítio, quando sabíamos que nem liam jornais, nem ouviam os noticiários da Emissora Nacional e muito menos tomariam conhecimento das leis aprovadas e reprovadas pelos deputados da União Nacional do Estado Novo! Pensando agora um pouco melhor, o que terá acontecido é que o poder político, terá decidido adaptar-se ao fenómeno e adoptar em lei a prática deste povo errante, que nunca deu mostras de querer cortar com o seu passado e jogar fora a liberdade de não ter que prestar contas das suas vidas a uma Monarquia ou a uma República estabelecidas!
Cozinhavam numa pequena fogueira improvisada, quase central ao acampamento, ao mesmo tempo que beneficiavam da sua luz e do seu calor, que nas noites frias e chuvosas tanto jeito lhes dava e ainda guardamos na memória, as habituais conversas que mantinham "acesas" para lá da última refeição e que mesmo a curta distância não conseguíamos entender!...
Esta gente não tinha grandes hábitos de higiene e nem era por falta de água, porque recordamos ver as mulheres e as miúdas mais crescidas a abastecerem-se nos fontenários da aldeia, contudo os acampamentos ao ar livre não lhes permitia ter acesso às condições necessárias para ajudar a boas práticas no campo da higiene... Apenas mais uma curiosidade:-« Chegamos a ver à distância, uma ou outra cigana a lavar-se ou a lavar a roupa de familiares, bem perto da foz do velhinho Arda, mas não recordo ver, por uma vez que fosse, um cigano jovem ou adulto a pescar, algures, nas águas do Arda ou do Douro!...»
Não havia volta a dar, porque os ciganos estavam vocacionados e poderíamos mesmo dizer que "treinados" para ir ao encontro das populações, procurando o contacto porta a porta, com o intuito de lhes proporcionar pequenos negócios, que poderiam passar pela venda de um simples tecido, ou na pior das hipóteses pela leitura da sina, que passava sempre por pedir ao residente para a abertura, creio que da mão direita, para de seguida debitar uma série de acontecimentos bem conseguidos para o futuro e que as mais jovens da aldeia gostavam de ouvir, ou pelo menos, era a ideia que ficava no ar, enquanto a cigana, assim que acabasse o "trabalho" lá seguia a caminho do acampamento, mas só depois de ter na mão a pequena quantia acordada com o "cliente"... Pudera, compromisso com cigano era para respeitar!... ( Continua )
Nota: Cópia do post original publicado em PEdorido.com

quinta-feira, 8 de julho de 2010

As Concas, os Ciganos e a história do Camelo!...

Nas décadas de cinquenta e sessenta habituámo-nos a assistir com alguma frequência à chegada e à partida da etnia cigana, que tinha pelo lugar das Concas uma preferência, digamos que natural e que nem seria difícil reconhecer-lhe os méritos pela escolha!... A etnia cigana, toda ela, percebia que era um sítio sossegado e espaçoso, com condições naturais quase únicas e de que nunca abdicaria com o correr dos anos, para uma das suas curtas mas preferenciais estadias!
Pensando melhor e à distância, somos levados a pensar, que esta gente saberia distinguir melhor que nós, as questões da Natureza com o seu entrosamento diário às vicissitudes do clima, nem sempre de acordo com as estações, com Invernos sempre duros e chuvosos, com Primaveras nem sempre amenas e onde as chuvas nunca faltariam, sendo certo que o Verão e parte do Outono iria brindar toda a zona deste vale do Douro e do Arda com um Sol quente e criador, um pouco amenizado pela influência dos rios e de um vasto arvoredo, com tons de verde diversificados, que ia buscar aos rios e às encostas a humidade tão do seu agrado e vital para que continuasse pujante e belo em todos os meses do ano!
Tinham por hábito utilizar transporte próprio, sempre uma carroça, puxada por um pequeno burro, que com muita coragem e personalidade era capaz de levar estas famílias em curtas, mas incessantes viagens e nunca dispensavam a companhia de um ou vários cães nas suas caravanas!... Chegavam e partiam, sempre de surpresa, mas nós sabíamos que voltariam mais tarde, meses volvidos, ou no ano seguinte, e, curiosamente, viriam ocupar o mesmo espaço, numa zona bastante arborizada das Concas, ali bem próximo da N222 e onde a largura iria reduzir, mesmo ao lado de um desajeitado, duro e macio carreiro, que daria acesso ao grande areal, um tanto grado, lá no fundo, que ainda teríamos que vencer, até alcançar a barca, que nos levaria até à outra margem, ali mesmo, onde o pequeno rio Mau acabaria por entregar as suas águas a um Douro buliçoso, ansioso por se encontrar com o Atlântico!
Era muito comum juntarem-se duas e mais carroças, que corresponderia a mais que uma família, mas em boa verdade nunca iríamos sabê-lo, dado que foi sempre um povo muito independente, com opções muito rígidas, um género de "apartheid" imposto a eles próprios, que nem os próprios ciganos saberiam quando e em que região da Europa teria começado... ( Continua )

Nota: Este post é uma cópia do original publicado no blog PEdorido.com