sábado, 12 de junho de 2010

LUFICO - UMA HISTÓRIA DA GUERRA!...

Algum dia lá teria que ser, porque fomos adiando, adiando, mas não resultam os adiamentos, quando sentimos que algo para trás ficou por contar, e, logo nós, que, até com o decorrer dos tempos, fomos adquirindo a consciência de que devemos pôr cá para fora, mesmo o que nos terá desagradado, mas, que também terá ajudado a entender, que as nossas vidas são isso mesmo, compostas por pequenos sucessos, alguns insucessos e sobretudo muitas limitações, e , por vezes algumas contradições...
Recuar ao ano de 1966, para me situar naquele dia 9 de Maio na pequena mas linda cidade do Ambrizete, ali mesmo junto do Atlântico! Parecia um dia como tantos outros, não fosse ter na mão uma credencial passada pela minha Companhia de Engenharia, para logo pela manhã incorporar uma grande coluna de carros militares e civis, que daqui abalaria até à cidade de S. Salvador do Congo, lá mais no interior do norte de Angola. Era uma coluna de abastecimento para civis e militares, coisa já rotineira neste conflito, que era a guerra colonial.
Seguia comigo um outro camarada e grande amigo da Engenharia de nome Manuel Neto e que sempre me acompanhou desde a recruta em Paramos, até à mobilização e com quem fazia equipa nos trabalhos de electricidade, que haveria de ser necessário executar pela companhia durante os dois anos da comissão de serviço naquela colónia.
Era a primeira vez que iríamos deixar a nossa tropa da Engenharia, para um trabalho temporário, algures mais a norte, num local para nós desconhecido e que se chamava Lufico... Lembro-me perfeitamente, que ocupamos um lugar no mesmo carro, porque não conhecíamos ninguém da nossa tropa e até me recordo de ter aconselhado o Neto a não aceitar um melhor lugar num jipe, que, fora oferecido a um de nós pelo alferes - naquele dia sem divisas - da tropa do Lufico, um pouco antes da coluna arrancar do Ambrizete...
Esta grandiosa coluna seguiu intacta até ao Tomboco, e, aqui, a tropa do Lufico composta de cinco carros, separou-se para seguir rumo ao seu objectivo, que distava cerca de cem quilómetros, ou um pouco mais...
Faltaria pouco mais de trinta quilómetros para atingir o nosso objectivo e aconteceu um ataque-surpresa, montado bem perto da picada pelos guerrilheiros de um dos Movimentos de Libertação, que, no caso, seriam da FNLA ou MPLA, possivelmente, e que atingiu o jipe e um unimog, que eram a frente da nossa coluna militar. As baixas do lado da nossa tropa cifraram-se por alguns mortos e vários feridos, e, era a primeira vez, que tanto eu como o Neto, tomávamos contacto com a guerra de guerrilha e duma forma trágica para alguns daqueles jovens, e, vem-me sempre à memória, que, uma das baixas, foi precisamente o jovem maqueiro que aceitara o lugar que fora oferecido ao meu bom amigo Neto!...
Passaram já quarenta e quatro anos sobre tão triste memória, duma guerra que bem poderia nem sequer ter começado, mas não ficam por aqui as más notícias... O meu bom amigo Neto deixou-nos no passado dia 30 de Maio e como era meu dever, fui acompanhá-lo até à sua última morada no cemitério de S. Martinho do Campo...
O Neto, costumava dizer que me considerava como um irmão e sei que sentia essa estima de verdade, porque vivemos momentos de profunda amizade, numa partilha que nos marcou até ao fim e que nos convívios anuais gostávamos de relembrar!...
Neste 31 de Maio é que acabei por perceber o quanto custa perder um grande amigo! Vamos fazer por merecer a sua profunda amizade e recordar sempre as coisas boas e menos boas que partilhamos, beneficiando de uma idade generosa, numa época conturbada da nossa História colectiva, mas que nunca inviabilizou o nosso sonho de ajudarmos a construir um mundo diferente e bem melhor!

2 comentários:

  1. Só se morre, quando deixamos de estar no Coração de alguém.
    Pelo que o teu companheiro deixou-te fisícamnte, mas continuará sempre presente na tua memória e para além de ti certamente irá continuar recordado nestas linhas que acabas de lhe dedicar.
    O Maqueiro, que certamente não recordarás ou nunca terás sabido o seu nome, aqui é relembrado também.
    É bom estes relatos veridícos que passam a constar para que os nossos Jóvens e vindouros possam saber que houve uma guerra de guerrilhas, onde houve cerca de nover mil jovens militares qe morreram nessa guerra e muitos mais milharesd ficram mutilados e uma grande percentagem sofrem de traumas de guerra sem um minímo de apoio, seja psicológico ou outro.
    Parabéns pelo artigo

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  2. Quero cumprimentar o Amigo, na primeira visita que faço ao teu Blog, isto de principiante tem o seu preço,andei ás voltas a ver se descobria o teu Blog e tive que pedir á filha que num clicar o descobriu.
    Quanto á mensagem, é daquelas coisas que nos deixa a pensar porque carga de água os cavalheiros que desgovernavam o Pais não viram o que todo o mundo tinha visto a seguir á segunda grande guerra.
    Um abraço
    Virgilio

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