quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Desleixo que nos dá que Pensar!...

Fazemos parte duma sociedade que tem as suas regras a que vamos juntando os nossos princípios, adquiridos ao longo de toda uma vida, mas, que, por vezes, são "mandados às urtigas" só porque não nos convém, ou, porque, simplesmente, resolvemos resvalar para o erro, alegando desculpas esfarrapadas, como aquela, de que se os outros não cumprem, porque teremos nós de o fazer?!... Vai daí, puxamos dos "nossos galões" e sem sequer pensarmos um pouco, desatinamos a tomar atitudes feias, num sinal claro de falta de civismo e de desrespeito para com o ambiente, como se todo o mundo fosse culpado das nossas frustrações como humanos.
Por achar tratar-se de situações anómalas, que mostram claramente o estádio actual de uma franja significativa da nossa sociedade, achei, por bem, trazer ao vosso conhecimento dois episódios em que de alguma forma me vi envolvido e que gostaria de vos dar a saber! Cá vai:
- Um pouco afastado da casa onde moro estão colocados dois contentores do lixo, além dos três bidrões que todos nós conhecemos... Acontece, que tenho por hábito durante o trajecto até aos contentores, aproveitar por "limpar" as zonas envolventes por onde passo, porque não sou capaz de passar indiferente por um maço de cigarros já vazio e que fora arremessado para a berma, ou ignorar uma garrafita de plástico, ou uma lata de sumo, já vazias, sabendo que não perdi tempo algum com o meu gesto, uma vez que teria de efectuar aquele percurso até aos contentores...
Há alguns dias, um indivíduo bem adulto, que estava a observar o "ambiente" e de mãos nos bolsos, ao ver parte do meu "trabalho" reage desta maneira:- «... Não se incomode com isso, ninguém lhe agradece nada, "eles" que limpem, são "eles" que o ganham... Vê-se, que você é de bom tempo...»
Mas as coisas não se ficaram por aqui! Ontem, arrumei o lixo selectivo para os bidrões, mas fui surpreendido com a deslocação destes aparelhos para uma zona mais afastada sem aviso prévio... Naquele local, encontravam-se parados alguns operários da construção civil à espera do transporte depois de mais um dia de trabalho e questionei-os acerca da nova "morada" dos bidrões "desaparecidos"... Disseram-me, que tinham sido levados para o fundo da rua, mas foram peremptórios e unânimes a sugerir para que despejasse ali nos contentores gerais do lixo as garrafas, cartões e plásticos:- « É de bom tempo... Despeje aí e vá à sua vida... Isso é que era bom, ir agora até ao fundo, fazer mais outro caminho... tá bem tá... "eles" não merecem o sacrifício das pessoas... etc,etc,»
Claro, que levei a minha missão até ao fim e não seria por mais oitenta metros que deixaria de o fazer!...
Moral da história:- Nota-se em largos sectores da sociedade portuguesa uma falta de brio, de exigência ética à mistura com alguma raiva e tudo serve como "ajuste de contas", nem que seja deixar poluir as zonas próximas das nossas habitações... É verdade que há problemas sérios por resolver, mas mistura-se tudo e "paga o justo pelo pecador", um ditado popular muito usado pelas boas gentes das margens do Douro.
Com cabeças tão confusas e sem esperança, para onde caminha este povo?!...

Etiquetas: ambiente, princípios, ética, civismo, operários, justiça, missão, regiões...

sábado, 2 de outubro de 2010

A razão e o porquê do Neo-Realismo!...

Quem como nós foi ensinado a ler as obras de alguns dos mais sonantes do neo-realismo português, já quando éramos mais crescidinho, logo virou adepto e a explicação até é simples de perceber! Estamos a comentar uma escrita de uma época ainda bem próxima - meados do século vinte - que teria como objectivo "furar" um certo bloqueio, que havia tomado conta da vida deste país, que, não encontrava limites no seu âmbito e que atingiu a própria literatura - também ela controlada - duma forma acérrima, até finais dos anos sessenta, pelo que nos foi dado observar...
A escrita incisiva do mestre Aquilino, fez-nos compreender que éramos ainda um povo que "remava" contra a desdita e que punha a nu as dificuldades de um país rural e atrasado, devido ao abandono a que fora botado por um poder matreiro e ardiloso, onde se podia também ler, aqui e além, acerca de algumas referências que atestavam a existência de conceitos ainda enraizados nas cabeças de populares e que vinham dos primórdios e não eram outra coisa senão a pujança de um povo bastante antigo e experiente nas dificuldades, disposto a analisar e só depois a decidir! Como deveria ser!...
Entretanto, as décadas foram passando e já ninguém faz referências a Alves Redol ou a Soeiro Pereira Gomes, nem se sabe bem porquê, mas podemos pensar que poderá ter acontecido uma espécie de complexo, que terá atingido muitos portugueses, que adoptariam outras "modas", e, não quererão, agora, parar um pouco e olhar para trás para reflectir quem já fomos e como deveríamos ser! Será, talvez, por isso, que já não se discute os princípios que nos deveriam nortear como povo, antes preferem e adoram falar à volta de números - que muitos deles mal dominam - e que assentam em bases pouco sólidas, para não dizer falsas, pondo de lado um princípio bastante antigo e que nos diz:- « A mentira tem perna curta!» Na verdade é uma missão quase impossível, nos dias que correm, "tentar tapar o Sol com a peneira", porque com os meios que estão no terreno, mais hora menos hora, as agências noticiosas põem cá para fora não só as notícias, mas até os comentários... Só que a mediocridade é tamanha, que não dá para ver a figurinha que fazem!... Claro que estamos a generalizar.
A nós sempre nos ensinaram que "o crime não compensa", mas assistimos a partir dos anos oitenta ao desplante de quadros portugueses formados em universidades a tentarem incutir nas empresas, um novo hábito acabadinho de chegar da "estranja" e que "rezava" assim :- « O que hoje é verdade, amanhã poderá ser mentira!» Tal e qual...
O que é lamentável, para não lhe chamar coisa pior, é ver como esta gente que luta para vencer sozinhos, tenta semear tudo o que lhe é transmitido, quando sabe que está a ir pelo pior caminho e com consequências difíceis de imaginar para um povo, que, vai ver-se confrontado, mais dia menos dia, com contradições difíceis de superar! Quem leu "QUANDO OS LOBOS UIVAM", sabe aonde queremos chegar, mas, infelizmente, a ganância roubou o discernimento a filhos de muito boa gente e o mal foi começar!...

-Com o que Pedro sara, Sancho adoece!

Etiquetas: escritores; neo-realismo; ruralidade; complexidades; números; hábitos; tribunais plenários; tradições; partidos políticos.