A linda aldeia de Oliveira do Arda no sopé da "serra" de S. Domingos tinha um posicionamento natural, em forma de V, adaptando-se quase na perfeição ao formato que o Douro e o Arda desenharam, ao rasgar aqueles dois vales que iriam servir de leito para as suas águas de milhões de anos, e, que, se repararmos, em muito se assemelha à postura física da sua vizinha e linda aldeia de Rio Mau, no sopé da Boneca, mas com a diferença desta se encontrar na margem oposta do grande Rio Douro... que desliza lá bem no fundo, muito encostado por todo o Verão às terras paivenses e deixando bem a descoberto aquele imenso areio d' Hortos ao longo de toda a margem direita, por muitos considerado o maior areal do Douro e que os Oliveirenses tinham o previlégio de observar na sua real dimensão, e, assistir, se assim o entendessem, aos vários processos de trabalho que ali se desenrolavam, de segunda a sábado, a começar pela retirada continuada de areias e godos, através de camions que desde manhã até até ao final do dia, efectuavam num vai-vem constante pela marginal até Sebolido, para aí "cortar," até atingir o grande Areal, para depois abastecer parte de todo aquele frenesim imobiliário, em que se tornara todo o litoral nortenho, a partir das décadas de Cinquenta e Sessenta; por vezes, e, em simultâneo, dependendo da época do ano, decorriam as tarefas piscatórias, em especial do sável e da lampreia, que em nada colidiam com as extracções das areias, embora não nos custe a admitir, que os pescadores olhassem aquela outra tarefa como uma "intromissão," que em outros tempos nunca acontecera, e, porque, também não lhes agradaria nem um pouco, ver todas aquelas irregularidades e os grandes buracos, que aquele tipo de exploração ia deixando ao longo daquele grande e belo areal, que, quase formava uma meia lua nos meses do ano em que o Estio primava por secas prolongadas; também era verdade que a "violência" das primeiras cheias lá para as proximidades do Inverno, iria repôr a ordem em todo o areal, corrigindo, este e outros erros, que os humanos sempre foram peritos em cometer.
Desconhecemos se existia alguma actividade piscatória no Douro e mesmo no Arda por parte de alguns Oliveirenses, mas acreditamos que isso terá acontecido, uma vez que os vizinhos de Pedorido, Rio Mau, Cancelos e outros, tiravam partido sazonal e das mais variadas formas na captura das muitas espécies em que o Douro era fértil, valorizadas ainda porque se tratava de peixes de água doce, uma vez que as marés mais atrevidas do Atlântico, só se "atreviam" no máximo até Melres, sendo esta a razão única, porque o sável tinha um valor de qualidade e comercial superior, caso fosse capturado nos areios a montante, estamos a falar do areal de Pedorido, d'Hortos e outros...
Acontece, que todos os anos em Oliveira do Arda nos meses de Agosto e Setembro as festas em honra de S. Domingos e da S.ra das Amoras, atraíam milhares e milhares de pessoas, autênticas romarias vindas dos mais variados povoados em redor, mas também de terras distantes, dos concelhos da Feira e Gaia e até de Penafiel e Gondomar!... Este mar de gente, deslocava-se sobretudo a pé, utilizando ainda autocarros, automóveis e bicicletas, muitas bicicletas, num frenesim pouco comum nas gentes portuguesas, que parecia ter esperado sem paciência todo o tempo que medeia aquelas datas, em especial quando se festejava a S.ra das Amoras, que era encarada como uma romaria, enquanto que pelo S. Domingos estava ainda em causa um rol imenso de promessas e que as pessoas de corpo inteiro, ali bem no alto, procuravam satisfazer, procurando a ajuda, se fosse caso disso, de familiares ou amigos, quando se tratava de promessas que exigissem grande esforço físico e porque o calor apertava naquele tórrido mês de Agosto!...
Acontece, que todos os anos em Oliveira do Arda nos meses de Agosto e Setembro as festas em honra de S. Domingos e da S.ra das Amoras, atraíam milhares e milhares de pessoas, autênticas romarias vindas dos mais variados povoados em redor, mas também de terras distantes, dos concelhos da Feira e Gaia e até de Penafiel e Gondomar!... Este mar de gente, deslocava-se sobretudo a pé, utilizando ainda autocarros, automóveis e bicicletas, muitas bicicletas, num frenesim pouco comum nas gentes portuguesas, que parecia ter esperado sem paciência todo o tempo que medeia aquelas datas, em especial quando se festejava a S.ra das Amoras, que era encarada como uma romaria, enquanto que pelo S. Domingos estava ainda em causa um rol imenso de promessas e que as pessoas de corpo inteiro, ali bem no alto, procuravam satisfazer, procurando a ajuda, se fosse caso disso, de familiares ou amigos, quando se tratava de promessas que exigissem grande esforço físico e porque o calor apertava naquele tórrido mês de Agosto!...
Para que tenhamos uma ideia da repercussão destas festas, era comum ver alguns dos melhores ciclistas portugueses, como eram os casos de Sousa Cardoso e Mário Silva, a trepar nas suas bicicletas por aquela íngreme subida de S. Domingos e completamente dissolvidos naquela desordenada onda humana, que estava prestes a superar a parte mais curta e mais difícil duma jornada, que, em muitos casos, já durava há várias horas... Claro, que aqueles ciclistas vinham numa outra missão, já que a Volta a Portugal estava por dias, e, é de crer, que estariam a dar os retoques finais numa forma já muito apurada e que se notava pela facilidade com que "engoliam" tão duras subidas... Estes dois ciclistas, faziam parte do grupo dos melhores roladores e trepadores nacionais daqueles saudosos tempos!
Entretanto, as várias travessias no Douro, utilizando o amigo e inseparável VALBOEIRO, não tinham "parança", para com a maior ligeireza possível, trazer da margem direita toda aquela gente, que, não se conformava só em ouvir o chamamento dos foguetes e os acordes de bandas e alti-falantes dos grandes arraiais, que não deixavam sossegar os espíritos de quem é jovem ou ainda tem esse espírito, e, que, os vales, servindo-se dos ventos, se prontificavam em conduzir todos aqueles efeitos festivos pelas encostas mais vizinhas, atingindo não só estradas, caminhos e carreiros, mas também os montes, hortas e todo o casario por mais simples e desordenado, onde em última instância iria penetrar a mensagem e o convite generalizado, sem distinções; de resto estas datas eram sobejamente conhecidas, diríamos que de cor, pelos povos das redondezas e mesmo de gentes afastadas, por se tratar de romarias e tradições que vêm de muitas centenas de anos e que passam de geração em geração...
Cada povo usa a crença e a diversão à sua maneira e cremos que foi sempre assim desde a Pré-História até aos nossos dias!...
Recordo-me que em Pedorido, todos os anos pela S.ra das Amoras, um número razoável de Pedoridenses, colocava-se na N 222, mesmo junto do cemitério e de costas para o rio Douro, para assistir sorridente e divertido ao "triste" espectáculo, que lhes era "oferecido", gratuitamente, por muitos populares montando pasteleiras, vindos das bandas da Feira e, que, regra geral, não conseguiam passar com sucesso aqueles dois carris, por onde, diariamente, circulavam os vagons da Carbonífera, originando quedas de enorme aparato e sem consequências, pelo menos na ocasião, uma vez que voltavam a montar rumo a Oliveira do Arda e sem um queixume sequer... O objectivo estava quase a ser alcançado e não ia ser uma queda que iria impedir a concretização de um sonho que durava há um ano e em alguns casos há vários...
Voltando ao S. Domingos e à festa bem lá no alto, é de assinalar que serão várias as razões, porque ficamos com recordações que se perpetuaram no tempo e que teimosamente persistem no nosso consciente, porque festas haverá com certeza muitas, mas aquela tinha um lugar de distinção, porque, ali, éramos como que convidados a reflectir muito seriamente sobre quem somos e qual o nosso papel neste nosso planeta, talvez, porque não estejamos muito habituados a viver regularmente nas altitudes e isso nos deixe pouco à vontade, e, essa ocasião sublime, leva-nos a que questionemos certas atitudes, por um lado, enquanto que por outro, ficamos sem palavras, ao descobrir a grandeza do horizonte por onde quer que apontemos o nosso olhar e isso assusta, porque nos transmite pequenez e insegurança...
Antes de terminar quero aqui contar-vos uma história passada numa dessas festas a S. Domingos, ainda na década de cinquenta:
- A meio da tarde desse domingo festivo, o padre convidado dava início ao sermão em honra do Santo, respeitando assim o horário, independentemente dos poucos assistentes, algumas dezenas, muito embora se tratasse duma pequena capela, mesmo assim notava-se que a afluência dos fiéis era escassa; naturalmente, que no exterior uma enorme multidão divertia-se à sua maneira, salvaguardando os muitos casos de devotos que se sucediam nas voltas à referida capela, cumprindo assim uma parte da promessa ao S. Domingos, porque, regra geral, a outra parte da promessa, dizia respeito a uma pequena quantia em dinheiro a que ninguém tinha acesso, depositada em local apropriado; num curto espaço de tempo, dá-se uma reviravolta no estado do mesmo e a bela tarde por todos saboreada, vê-se transformada num abrir e fechar de olhos, com o desaparecimento do sol, o surgir de nuvens negras acompanhadas de trovoada e a consequente chuva torrencial, que, iria apanhar todo o arraial desprevenido... Ninguém estava à espera, ninguém estava preparado e só havia ali no ponto mais alto da serra um bom refúgio para acudir a tão grande emergência: A CAPELA DE S. DOMINGOS... Todo o arraial pensou o mesmo e a minúscula capela de repente terá registado a maior enchente de que havia memória, mas só uma pequena parte dos romeiros pôde abrigar-se, ocupando tudo quanto era espaço, enquanto o nosso abade percebendo o motivo da forte afluência dos "fiéis," deixa de lado, por alguns momentos, o rumo do seu elaborado sermão, para duma forma contundente mostrar toda a sua solidariedade com a intempérie, ao mesmo tempo que gesticulava e gritava a frase que encontrou como a mais adequada à situação, na esperança, pensamos nós, de vir a ser atendido pelo Santo em mais um dos seus milagres:
«CASCA-LHES S. DOMINGOS!... CASCA-LHES S. DOMINGOS!...»
Aquele abade não resistiu à tentação humana, diríamos quase primária, de mostrar o seu desagrado por método pouco ortodoxo, fruto da grande influência das histórias bíblicas, em especial do velho testamento, muitas delas carregadas por um simbolismo castigador e decisório e, que, continuam, mesmo no nosso tempo, a causar inflamados debates, e, sobretudo, a originar múltiplas interpretações!
Como diria alguém:- É A VIDA!...
UM GRANDE ABRAÇO PARA A LINDA E BELA OLIVEIRA DO ARDA!
RECORDAR É VIVER DUAS VEZES!
Não é prestar nenhum fabor em afirmar que é uma história veridica e que se repetiu em vários anos, e conseguida de forma brilhante.
ResponderEliminarS. Domingos da Queimada, em vários anos pregou esta partida, quando nada o fazia prevêr mandava umas chuvadas. Felizmente a tradição ainda é o que era, e de quando em vez o Santo lá manda essas chuvadas, como que a avisar que ali quem manda é ele. Vou anualmente e há mais de 25 anos seguidos no dia da Festa em 4 de Agosto de cada ano, continua a encher-se de forasteiros, na sua grande maioria. Peregrinos. Mas nos dias de hoje e sempre que o tempo o permite, vivesse ali dias de festa ao fim de semana.
Porque o local é convidativo.
Parabéns e muita força e espera-se novas publicações.
Parece que temos escritor. É assim mesmo caro amigo, escrever sempre como quem desfia um rosário de contas e reza a deuses desconhecidos.
ResponderEliminarAs histórias da banda de lá, começam a surgir do pó do carvão. Parabéns