Já podemos começar por tirar algumas conclusões sobre o nosso país que é Portugal e especificamente sobre as sociedades portuguesas em que estivemos inseridos desde o final dos anos quarenta, mais propriamente desde o pós-guerra (1939/1945).
Éramos um país essencialmente rural e pouco desenvolvido, com quotas elevadas de analfabetismo e de carências várias a que o regime ditatorial não punha mão, por ser excessivamente centralizador, na ânsia de manter um Estado forte (dentro do possível), procurando não largar de mão as suas colónias, coisa que já vinha sucedendo com outras potências colonizadoras europeias. Os resultados dessa política caseira e isolada são sobejamente conhecidos, desde o despoletar duma guerra interna para não perder as colónias e que viríamos a perder à mesma, sem honra nem glória...
No plano interno os orçamentos foram sempre apertados e sem quaisquer necessidade de explicações, porque nem sequer eleições existiam com regularidade e quando as havia, eram completamente manipuladas e em proveito do próprio sistema ditatorial! Era o que mais faltava, uma oposição, qualquer oposição, vir a ganhar umas quaisquer eleições naquele Portugal amordaçado, como já escancararam em livro com alguma propaganda à mistura...
Esta manipulação premeditada deu diversos tipos de resultados, que, com o tempo, foram subindo à superfície, como acontece com o azeite, que, assim que pode, logo se liberta da água!Os sinais exteriores de riqueza não eram muito visíveis, mesmo nas famílias que o eram de facto... Claro, que até teriam o seu automóvel, mas que só retiravam da garagem de onde em onde... Era preciso andar mais uns vinte quilómetros para nos depararmos com outra família aldeã que tivesse um nível equiparado ao da família anterior; estamos a referir-nos a famílias cujo rico património passava de geração em geração, que procuravam investir o menos possível, geralmente com terrenos de lavradio, sempre cultivados por caseiros pobres e dispondo ainda de vários terrenos de pinhal bravio, que iam acumulando com a compra de outros do género, porque os seus donos, geralmente gente pobre, lá iam vendendo quando a necessidade apertasse... O resto da populaça, vivia ou sobrevivia de salários de fome, com a agravante da maioria dos casais ter um número de filhos que em muitos casos chegava aos dez!... Tudo isto nas "barbas" da Igreja Católica que não só aprovava, como ia benzendo com umas rezas pelo meio... Alguma industria, entretanto, iniciava por cá o seu aparecimento, sobretudo vinda dos países da OCDE a partir da década de sessenta e que o regime lá ia aceitando, porque o esforço de guerra era enorme, e, via-se, que ia desfalcar o Tesouro aferrolhado durante tantos anos de míngua! (Continua)
Sonata Incompleta
Há 6 anos